quinta-feira, dezembro 17

Red Bull corta as nossas asas

por Ferreira Fernandes

Lisboa não é Lisboa SAD, nem Lisboa SA, nem clube, nem empresa, é a capital portuguesa. Tal como o Porto não é SAD nem SA, é cidade portuguesa. Uma não seria o que é sem a outra. Durante séculos fizeram-se assim, uma para a outra. Foi no Porto que os cruzados do Norte da Europa foram convencidos a parar em Lisboa e fazê-la parte do Portugal que se fazia. Foi Lisboa que se levantou com o Mestre de Avis e livrou o Porto de ser castelhano. Foram uma e outra, pelos séculos, por Portugal. Camilo nasceu no Bairro Alto e foi buscar a mulher da sua vida à Baixa do Porto; entre os dois acontecimentos, aprendeu na aldeia de Vilarinho de Samardã o português que lhe permitiu fazer lembrar a Lisboa e ao Porto que o resto de Portugal não é paisagem. Eu, que sou de fora, de outros lugares que este Portugal permitiu, olho as duas cidades, vejo-as tão diferentes e não consigo vê-las afastadas. Sorrio às picardias bairristas, conheço-lhes as vantagens e fraquezas e amo ambas. Gosto que compitam porque, afinal, beneficio eu. Mas compitam, desculpem-me a inocência das palavras, como irmãs de destino comum. Que uma bebida manhosa leve uma, Lisboa, a roubar a outra, Porto, é indigno de tanto passado. E, basta ver o que acontece no país aqui ao lado, enfraquece o futuro.

segunda-feira, novembro 2

O destino da Europa só pode ser o mesmo dos EUA: uma federação democrática
http://jornal.publico.clix.pt/noticia/01-11-2009/o-destino-da-europa-so-pode-ser-o-mesmo-dos-eua-uma-federacao-democratica-18125866.htm


Os Estados europeus encontraram na União Europeia o substituto para os seus antigos impérios. São hoje um "império" ainda à procura de destino num mundo em que o Estado soberano está em perda de protagonismo. Por Teresa de Sousa


Para um ouvido leigo, falar de impérios, sobretudo do império europeu, não soa a normalidade. A história da Europa encarregou-se de fazer com que os europeus se dêem mal com a palavra. A obra de Josep Colomer, académico catalão da Universidade Pompeu Fabra de Barcelona, reintroduz o conceito - historicamente tão válido como o de Estado ou de cidade - como instrumento de análise útil para a compreensão da realidade actual. Compara os processos "imperiais" de constituição dos EUA e da União Europeia para chegar à conclusão de que dificilmente a Europa evitará o seu destino de federação democrática. O mesmo dos Estados Unidos.

Colomer veio a Lisboa para proferir a "Palestra A. Sedas Nunes" no Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa. O livro que inspirou esta entrevista data de 2007: Great Empires, Small Nations - the uncertain future of the sovereign state.

A ideia de império, de que fala nas suas obras, é uma ideia negativa. Por que é que teve necessidade de recuperar este conceito para a análise política?

O império é apenas uma das formas políticas históricas que se podem distinguir: cidade, Estado, império. Nos últimos 300 anos, o Estado foi a forma dominante, mas creio que hoje os Estados soberanos, sobretudo na Europa, já não são, em muitos aspectos, realmente soberanos e creio que a forma de império pode ajudar a entender algumas realidades políticas actuais. Se olhar para a realidade do ponto de vista histórico, os grandes Estados - incluindo Portugal, Espanha, Grã-Bretanha, França - desenvolveram-se como Estados porque tiveram impérios coloniais.

Mas não é o mesmo conceito de império que agora introduz nos seus livros.

Não. Não é o mesmo, quando se compara com o império romano-germânico, o império romano, o austro-húngaro. Mas quando os impérios coloniais europeus desapareceram também acabou o período de grandes guerras entre Estados na Europa, em parte devidas à rivalidade colonial. Esses impérios coloniais foram substituídos por um acordo de cooperação económica e militar entre os Estados europeus que é hoje a União Europeia. Uma coisa substitui outra. É um acordo entre as antigas potências coloniais que necessitam de um âmbito territorial muito mais amplo que o dos Estados e que tiveram de deixar de tê-lo nas colónias.

E que o senhor diz que é um império, mesmo que de outro tipo...

É um império no sentido em que também o foram os Estados Unidos no seu início e muitas outras experiências históricas semelhantes - no sentido de que não é um Estado. A UE não é nem será um Estado nacional soberano. Mas também não é apenas uma organização internacional como a ONU ou a OCDE. É mais do que isso. Eu digo que é um império no sentido em que os limites territoriais não estão pré-determinados, em que não há fronteiras fixas e não sabemos ainda qual é o seu limite, e em que existe uma grande descentralização interna e uma grande variedade de níveis institucionais distintos, unidos no seu topo por instituições ainda relativamente débeis mas que tomam decisões vinculativas para todos os membros...

O que está a dizer é que, nesse conceito de império que define, os EUA não são hoje um império mas que foram um império até chegarem à sua forma actual?

Passaram 120 anos desde que as 13 colónias se tornaram independentes em finais do século XVIII até que se estabeleceram os limites dos EUA actuais e se consolidaram as instituições centrais. Levou esse tempo todo a construir a federação democrática dos EUA. Na Europa, apenas levamos cerca de 50 anos de construção europeia e ainda não terminámos. Comparo as duas experiências no sentido de que uma estrutura de tipo imperial pode acabar convertendo-se numa federação democrática mais estável.

Os EUA são um império acabado que se converte numa federação democrática.

Escreveu, precisamente, um ensaio comparando os dois caminhos de unificação da UE e dos EUA. Mas há uma diferença básica: a Europa nasceu da longa história das guerras entre os Estados e tem na sua origem a negação da ideia de nacionalismo. Os EUA nascem da ideia da liberdade religiosa. Essa diferença de génese não pode fazer toda a diferença quanto ao destino final?

A constituição dos EUA também começou como um projecto e levou mais de 100 anos até tornar-se numa realidade com instituições estáveis.

Nos EUA não havia a História.

Apesar disso, tiveram uma guerra civil tremenda 70 ou 80 anos depois da independência, comparável à II Guerra em termos de mortandade e de destruição. Na Europa até estamos a ser mais rápidos comparativamente, apesar do lastro histórico que os países trazem consigo. O ponto de partida pode ser diferente dos EUA, mas resulta da grande destruição da II Guerra. Que esteve a ponto de destruir os Estados europeus.

A Europa, com a adopção do Tratado de Lisboa, acaba de dizer que não quer ir no sentido dos EUA. É só uma paragem?

Até agora todos os avanços da integração resultaram de um alargamento. Quando estamos a chegar próximo do limite desse alargamento, os avanços só podem fazer-se com mais integração interna. Depois da expansão territorial, vem maior integração interna. Creio que não nos vamos ficar pelo Tratado de Lisboa.

Insiste na importância de definir as fronteiras. É um dos temas centrais do debate europeu. Há os que defendem a continuação do alargamento, incluindo à Turquia, para a Europa ganhar dimensão geopolítica mundial e há quem diga que é preciso estabelecer limites para poder consolidar-se politicamente. Os EUA também iniciaram a sua expansão sem limites prévios e, num certo momento, chegaram à conclusão de que já não podiam assimilar mais. Havia, na altura, muita gente que defendia que o México deveria ser integralmente assimilado - acabou por ser mais de metade. Outros defendiam que a integração deveria ir até às Caraíbas, incluindo Cuba, o que provocou a guerra com Espanha no final século XIX. Porto Rico, que está muito mais longe dos EUA, acabou associado e Cuba não.

Creio que os Balcãs são as Caraíbas da Europa. Se não forem integrados, serão uma fonte de conflito permanente. Para mim, a Turquia é o México - não se pode integrar, é demasiado grande e demasiado diferente. Em contrapartida, penso que a Turquia, com todos os seus avanços de democratização e de liberalização, podia ser uma referência para o Médio Oriente e teria um papel muito mais construtivo do que aspirar à UE, que creio que seria muito perturbador.

A definição das fronteiras é também uma condição para uma política externa comum que, entre outras coisas, pode conseguir estabilizar as relações com a Rússia ou com o Médio Oriente.

Precisamente, a região que separa a UE da Rússia parece ser um problema muito complicado de relação entre impérios.

Sim. Ucrânia, Geórgia, Moldávia são países internamente divididos. As revoluções democráticas recentes mostraram que há uma parte desses países que é pró-europeia e outra que é pró-russa. Essa é a questão da fronteira, no sentido americano de frontier e não de border.

O Wild West é o Wild East?

Exactamente. É o Wild East, "the frontier but not yet the border". São linhas de conflito que são, de facto, problemas. Mas essas linhas de conflito, nos Balcãs, na Turquia, na Ucrânia, são muito menos conflituosas do que as linhas de conflito que existiram entre a França, a Inglaterra, a Alemanha.

O que diz também é que a Europa, para manter a sua lógica interna, só pode ter como destino uma federação democrática?

Ou isso ou creio que acabará por ter menos relevância no mundo, que acabará por estar nas mãos dos Estados Unidos, China, Rússia e das grandes unidades que têm muito mais capacidade de coordenação a nível global.

No seu livro, argumenta que estas grandes unidades territoriais - EUA, UE, China, Rússia, Índia... - podem ter um papel estabilizador da ordem internacional. Está a falar da ideia de integração regional a partir de um grande país?

Desde o século XVII que a construção de Estados soberanos comportou guerras cada vez mais frequentes e cada vez mais mortais entre eles. Basta olhar para a Europa. Sobretudo entre a França e a Alemanha, mas também as guerras de sucessão da Espanha, da Áustria, as guerras napoleónicas, as guerras franco-prussianas, e depois a I e a II guerras mundiais.

Entre Estados ou entre impérios?

Entre Estados. Cada um tinha as suas fronteiras, rivalidades, desejo de expansão e conflitos coloniais. A época dos Estados foi uma época de guerras. Na Europa só há paz e democracia estável desde há cerca de 60 anos, quando os Estados cederam poderes a uma união mais ampla.

Na Europa isso é claro. Mas pode ser transposto para outras realidades mundiais?

Se o mundo estiver organizado em 10 impérios, mais do que em quase 200 Estados soberanos, as linhas de fronteira são menores e os conflitos potenciais também podem ser menores. A paz perpétua seria, como diz Kant, um governo mundial, uma grande federação de povos livres. Isso ainda não está no horizonte das nossas vidas. Mas a simplificação em grandes unidades internamente descentralizadas pode reduzir as linhas de conflito em comparação com as guerras permanentes entre Estados que vivemos nos séculos anteriores.

E como é que isso se articula à escala mundial?

Algumas organizações internacionais apontam nessa direcção. As Nações Unidas têm um Conselho de Segurança com cinco membros permanentes, que são basicamente os antigos impérios. Mas isso já foi substituído pelo G8 ou G9 ou G10 e, agora, o G20. Considera-se que é suficientemente representativo da população e da economia mundial para actuar como uma espécie de governo provisório em formação deste mundo que já não é feito de 200 Estados mas de organizações muito maiores.

sexta-feira, outubro 30

Configurar o acesso a um PC remoto, utilizando o tightvnc.

Cenário:
"PC-A" - o computador da pessoa que precisa de ajuda, ligado à internet através de um router ADSL.
"PC-B" - o computador que vai entrar remotamente no "PC-A".

Possibilidade 1:
a)No "PC-A" instalar o tightvnc.
b)No "PC-B" gravar o viewer do vnc.
c)No "PC-B" executar o executável com a opção -listen (pode ser necessário abrir uma excepção na firewall do windows)
d)No router do "PC-B", ir à opção "Virtual Server" e abrir uma regra para o endereço local associado ao porto 5500.
e)No "PC-A", clicar com o lado direito do rato no VNC e fazer "add new client". Introduzir o endereço internet do router do "PC-B" (consulta-se na tab status do router)


Possibilidade 2.
a)No "PC-A" instalar o tightvnc.
b)No "PC-B" gravar o viewer do vnc.
c)No router do "PC-A" abrir uma regra de "Virtual Server" para o endereço local, com o porto 5800 (http) e 5900 (normal). consultar o endereço internet do router associado ao "PC-A"
d)introduzir no browser do "PC-B" o endereço anterior com :5800 ou introduzir directamente o endereço no viewer vnc.

sexta-feira, outubro 2

Por que razão voto no Bloco de Esquerda
por Fernando Rosas, Publicado em 23 de Setembro de 2009


Começo por uma declaração de interesses e por um agradecimento. Sendo como sou deputado e membro da comissão política do BE, estou reconhecido ao i por esta oportunidade de poder explicitar o sentido do meu voto no próximo dia 27 com uma reflexão pessoal que pretende ir além do imediatismo da divulgação política, entrando, é certo que necessariamente algo à pressa, no campo do meu ofício de historiador.

Na realidade, o sentido de escolha que o BE propõe, é pelo menos assim que a entendo, tem a ver necessariamente com a constatação do fracasso histórico das elites sociais, económicas e políticas que têm moldado o ser económico e político-institucional do país desde 1976 (desde a contenção e anulação do processo revolucionário) no que respeita à tarefa da modernização sustentada de Portugal.

Procurando dizê-lo por outras palavras: o bloco social dominante reconstituído após a Revolução de 1974/1975 e a sua expressão política - o monopólio neo-rotativo do PS/PSD (com o apêndice eventual do PP), o omnipresente domínio do centrão nas instituições e no governo - reeditaram e prolongaram a incapacidade histórica da oligarquia portuguesa de modernizar o país. A economia, a sociedade, a vida política da democracia vive uma crise estrutural prolongada, uma crise de modelo. Uma crise que era bem anterior à crise internacional e contribuiu para acentuar os seus efeitos; uma crise agravada com ela, e uma crise de continuação já anunciada pelo governo PS e pelo PSD para o pós-crise mundial.

Insisto no conceito de "incapacidade histórica" - porque as elites pós-abrilistas repetiram o fracasso da oligarquia do salazarismo/marcelismo. O modelo que emergiu da evolução das políticas económicas da ditadura desde os anos 30 assentou na pauta proteccionista dos mercados nacional e colonial, nos oligopólios ou monopólios garantidos pela cartelização corporativa e pelo condicionamento industrial e, sobretudo, na exploração colonial e na "paz social", ou seja, nos salários muito baixos e no trabalho desqualificado, assegurados pela negação dos direitos políticos e sindicais fundamentais, pela repressão policial e por um módico controlado de paternalismo patronal e corporativo. Mesmo o tímido início de aproximação à Europa com o boom das exportações para os países da EFTA na década de 60 não alterou os traços fundamentais deste modelo de industrialização efectiva, mas sem liberdades políticas ou sindicais, sem justiça distributiva, sem mercado interno ou externo viabilizador, sem reforma agrária, sem qualificação atempada e suficiente de mão-de-obra e sem capacidade competitiva internacional. Uma industrialização tutelada pelos grandes grupos económicos em estreita promiscuidade com o Estado fascista, prosperando à sombra de toda a espécie de protecção e privilégios administrativos e pautais e seguramente garantidos pelo aparelho policial do regime.

Sabemos qual foi o resultado disto (até porque ainda hoje o estamos a pagar...): quando sucessivamente se conjugaram os efeitos da primeira crise petrolífera, das conquistas sociais do mundo do trabalho durante a Revolução e da inexorável integração económica europeia, os pilares do edifício industrial herdado do Estado Novo ruíram fragorosamente (Quimigal, Siderurgia, Sorefame, Lisnave, Mague...), seguida por tudo o resto que assentava essencialmente na mão-de-obra barata, numerosa e indiferenciada. Começou aí o doloroso processo de desindustrialização do país, depois acentuado por condicionalismos posteriores.

Acontece que os interesses económicos e sociais dominantes e o novo poder político neo-rotativo pós-revolucionário não só não contrariaram, como não se mostraram à altura de contrariar atempadamente este processo de desagregação. A partir dos anos 80, a estabilização da parceria rotativa PS/PSD-PP na governação e a direita dos interesses que a suporta, seguindo de perto o novo padrão da estratégia de acumulação do capitalismo global, adaptaram para o nosso país um modelo cujas três bases essenciais são bem conhecidas. Desprodutivização e financiarização especulativa da economia; ofensiva desreguladora contra os direitos do trabalho (desemprego em massa, generalização do trabalho precário, aumento da jornada de trabalho e redução do seu preço, li- beralização dos despedimentos, esvaziamento da contratação colectiva - em suma, o Código do Trabalho Bagão Félix/Vieira da Silva); ofensiva privativista sobre os serviços públicos rentáveis (especialmente a saúde, a escola pública e os transportes) e os sectores estratégicos da economia de lucro garantido (telecomunicações, energia, abastecimento de água, este último caso na lista dos projectos ocultos).

O resultado de tais políticas sucessiva e continuadamente aplicadas pelos governos do PS e do PSD/PP foi uma espécie de devastação económica e social cujos efeitos eram patentes bem antes de se fazer sentir o impacto da crise mundial. A destruição do aparelho produtivo marcado por milhares de falências e pela estagnação agrícola, mais de 600 mil desempregados (metade dos quais, devido a medidas restritivas do governo Sócrates, sem acesso a qualquer tipo de subsídio de desemprego), a gangrena generalizada do trabalho precário (900 mil pessoas a recibo verde!), mais de um milhão e meio de pensionistas com pensões de miséria, corrupção, fraudes e desvios milionários na banca, pára--quedas dourados para os gestores de topo a par de salários congelados nalgumas grandes empresas, o ataque à escola pública e aos professores, o cerco privativista e a desarticulação progressiva do Serviço Nacional de Saúde, o estrangulamento financeiro das universidades, o atraso na investigação científica e na qualificação da força de trabalho...

A estratégia neoliberal gerou a desigualdade e a injustiça social mais profundas, mergulhou o país numa crise estrutural duradoura, numa semiperiferia dependente e subqualificada, em suma, confirmou, e aqui regressamos, a falência histórica das elites pós-abrilistas, dos seus partidos do centro-direita e do seu modelo neoliberal quanto à modernização economicamente sustentada e socialmente justa do país. Isto, só por si, exprime o grave impasse actual da democracia portuguesa.

É, por tudo isto, o momento histórico de desarticulação do bloco central e de romper o caminho de mudança. Isto é, de juntar e organizar o campo social e político capaz de protagonizar um novo modelo de desenvolvimento e uma governação de novo tipo à esquerda. É claro que falo de um processo em que o BE não é senão um participante, falo de um movimento de reunião de forças sociais e políticas, partidárias e não partidárias, que se iniciou antes das eleições e continuará para além delas, mas em que se apela ao voto no BE como um gesto de confirmação, apoio e reforço decisivo à construção de um poder político e social alternativo. Fazer das esquerdas sociais, culturais, políticas, na sua pluralidade incontornável, uma esquerda grande, um projecto de governo socialista e popular, eis o cerne da proposta política do Bloco nestas eleições.

Juntar forças para mudar à esquerda o centro de gravidade da política portuguesa. Eis tudo o que nos traz. Eis a razão do meu voto no Bloco de Esquerda.

segunda-feira, setembro 28

Como apagar em definitivo ficheiros num computador com sistema operativo windows?

Usar um software que re-escreva os ficheiros a ser apagados com um padrão físico em disco. Por exemplo o Freeraser.

Depois de ter todos os ficheiros apagados, correr o secure delete que percorre todo o disco e enche o espaço vazio com zeros.

Uma solução bem mais radical, consiste em introduzir um disco de arranque cuja única função é apagar definitivamente todo o conteúdo dos discos rígidos. Tenham medo.

terça-feira, setembro 8

Entrevista

Público, 8 de Setembro de 2009.



Louçã: “A esquerda precisa de uma força para ter maioria e essa força não é o PS”
07.09.2009 - 23h30 José Manuel Fernandes, Maria José Oliveira
O Bloco de Esquerda não será governo sozinho. Mas o líder bloquista recusa nomear com quem fará alianças. Para já, exclui o PS da “maioria de esquerda”.

PÚBLICO – A insistência do Bloco de Esquerda (BE) na necessidade de uma maioria de esquerda dão a ideia de que o Bloco quer tomar conta do PS, ou pelo menos de uma parte dele.

Francisco Louçã – Não, o que tenho dito, e que é o centro da estratégia do BE nestas eleições e que vai ser nos próximos anos, é utilizar como critério para definir a política a necessidade de resposta à crise social e em particular à recessão económica. E isso exige uma arrumação da política, das ideias, e das alternativas. Creio que o PS fracassou na gestão política da resposta à crise. Por razões que têm que ver com o absolutismo da sua maioria, a fractura social que a sua política acentuou (com o Código do Trabalho, a desregulação da vida social e com a facilitação da vida económica, com os grandes negócios a prejudicarem os interesses da economia do país, a prejudicarem o orçamento, as contas públicas) e por isso é que me parece indispensável dizer com toda a clareza que para uma esquerda que governe, para uma esquerda de maioria, é preciso formar essa maioria.

Como é que se forma essa maioria sem o PS?

Com uma recomposição que atravesse todo o espaço da política portuguesa.

Isso implica uma cisão do PS ou uma transformação do PS.

Implica uma reconfiguração, certamente com uma clarificação contra as políticas passadistas e conservadoras que têm vindo a acentuar a crise. Já existiram diálogos, como aconteceu com Manuel Alegre. É a partir desse trabalho de diálogo que se encontrarão pessoas que fazem parte de todas as cores da política e das alternativas políticas à esquerda.

Essa reconfiguração passa também pela mudança do líder do PS?

O PS fará o que quiser. A esquerda precisa sobretudo de ter uma força para ter maioria. Essa força não é o PS.

Mas tem necessariamente de ter uma parte do PS.

Tem de ter, seguramente. Tem de ter muitas pessoas que certamente hoje se reconhecem no PS ou são críticas do PS. E de muitas outras opiniões da esquerda.

Se olharmos para a Europa encontramos um conjunto de países onde forças políticas que poderemos considerar semelhantes quer ao BE quer ao PCP acabaram por conduzir os partidos socialistas a uma situação de afastamento do poder. Isso não pode acontecer também em Portugal?

Eu vejo o contrário. Acho que se tratou do fracasso dos partidos socialistas que tinham a maioria dos governos de quase todos os países da União Europeia e que conduziram ao impasse europeu, ao Pacto de Estabilidade e Crescimento, a políticas que acentuaram a recessão e a desqualificação da política social. Essas foram as causas do fracasso. E esse fracasso exige o surgimento de alternativas e cria espaços políticos novos para reconfigurações políticas, sendo o mais importante o Die Link, na Alemanha, que nas mais recentes eleições teve entre 21 e 27 por cento em alguns dos estados mais industriais e mais populosos do país.
A política está a mudar na Europa toda, embora com configurações que são muito particulares. Para mim é sempre inexplicável como é que um país de cultura como a Itália pode ter um senhor como Berlusconi a federar a direita italiana.

Porque a esquerda estava estilhaçada.

É certo. E porque o último governo de grande coligação à esquerda foi uma catástrofe do ponto de vista político e social. Efectuou políticas que avançaram mais na privatização da segurança social do que o que tinha jamais acontecido até então. Perdeu-se a sua própria base. Se a esquerda governa atacando a sua base social em vez de criar uma grande maioria para políticas sociais de combate pela igualdade, então naturalmente está perdida. E isso é o que leva ao fracasso do Governo de José Sócrates.
Sócrates teve a maioria absoluta, teve todas as condições para governar. Atacou os professores e hoje diz que quer ser mais delicado, ao mesmo tempo a sua ministra da Educação diz que fez uma guerra com os professores. Ora, não há guerras delicadas. O que José Sócrates fez, juntamente com Maria de Lurdes Rodrigues, foi uma guerra social para desqualificar a educação em nome do autoritarismo de Estado. E isso depois traduz-se nos resultados eleitorais.


“Somos mais responsáveis do ponto de vista europeu do que Sócrates”

Há vários pontos no programa do BE que o colocam, no limite, fora da União Europeia (UE). As nacionalizações das telecomunicações e da energia vão contra as regras do mercado aberto europeu.

Nas telecomunicações há duas empresas que dominam o país. No mercado de energia há uma empresa que domina o mercado essencial e há quatro empresas na distribuição dos combustíveis. Falar de mercado é risível. Além disso, a UE nunca procurou ter mercados. O que procura ter é oligopólios bem organizados e quer proteger a rentabilidade de empresas privadas através de rendas que o Estado lhe garante.
Veja-se aquilo que aconteceu na Galp, para dar um exemplo concreto: há uma renda que é paga a Américo Amorim e a José Eduardo dos Santos, que compraram por 1700 milhões de euros um terço de uma empresa que vale 10 mil milhões. Ou seja, só na compra já duplicaram o seu investimento. E em cinco anos de dividendos vão pagar aquilo que lhes custou a empresa.
É claro que na UE há uma política liberal que procura garantir antiliberalmente que grandes consórcios possam ter o beneficio da utilização desses bens públicos. Nós discordamos disso, mas somos europeus. Não estamos fora da UE. Pelo contrário, somos mais responsáveis do ponto de vista europeu do que José Sócrates.

Um outro ponto que não se enquadra no projecto europeu é a saída de Portugal da NATO e a extinção da NATO.

A NATO foi criada depois da guerra, no contexto da configuração da Guerra Fria, para defender o Atlântico Norte e a aliança dos EUA com os principais países europeus contra o Pacto de Varsóvia. Hoje em dia, a NATO faz intervenções militares e redefiniu o seu projecto estratégico em qualquer localização do mundo, como é o caso da operação no Afeganistão. O BE entende que não é a NATO que deve ser a força de contenção ou de prevenção ou de intervenção em conflitos militares. Isso deve derivar de uma ordem internacional que não dependa de uma estrutura hierárquica determinada pelos EUA.

É o país com mais meios militares.

Os EUA investem em tecnologia militar mais do dobro do que investe o mundo inteiro. Dominam por completo a NATO.

Nessa lógica os EUA dominariam qualquer outro organismo.

Um organismo multilateral é um organismo diferente daquele que é a NATO. Bem podem dizer que há problemas de defesa. Há, sim senhor. Mas o problema de defesa que agora estamos a viver é o problema do Afeganistão. No Afeganistão os soldados portugueses sofrem a vergonha e a humilhação de defender um governo de narcotraficantes. Na Comissão de Defesa da Assembleia da República recebemos os comandos militares portugueses, sempre à porta fechada. Mas eles dizem-nos sempre, com toda a transparência, sem hesitarem nas palavras, que o Karzai e toda a sua equipa são a cabeça da maior produção de heroína no mundo.
A ONU calcula que 90 por cento da produção de heroína no mundo está no Afeganistão, uma parte pelos talibans outra parte pelos senhores da guerra, representados por Karzai. Não há nenhuma razão de paz, nenhum projecto de contenção do terrorismo, que esteja em causa na ocupação militar do Afeganistão. Porque a intervenção na zona, no Afeganistão e no Paquistão, nunca se fará com uma guerra em que os soldados são derrotados e se precipita o prolongamento desta ocupação militar. Há uma razão política que é vergonhosa.

A alternativa, no caso de as forças da NATO saírem, é dizer para se matarem uns aos outros.

Eu sei que os defensores das ocupações militares dizem sempre que depois de a terem feito não há alternativa a ela. Mas quem financiou os mujahedins, de onde vêem os talibans, foram os EUA. Os nossos bons democratas norte-americanos financiaram o terrorismo jihadista no Afeganistão, que derrotou os russos e depois disso se degladiou em guerras civis das quais resultaram a Al-Qaeda, entre outras coisas. Tudo isso tem a marca do dinheiro e das armas norte-americanas. Que depois desta operação não tenham vergonha e ainda venham dizer, como dizem os responsáveis norte-americanos, que não há qualquer alternativa possível à ocupação que fizeram... Sempre houve alternativas e sempre ficou a situação pior.


Um “bando de malfeitores” no BCP e no BPN

Rejeitou liminarmente a hipótese de uma eventual coligação com o PS, caso este vença as eleições sem maioria absoluta. Mas o BE estaria disponível, perante um governo minoritário do PS, para aprovar, no limite, um orçamento que evitasse a queda do Executivo?

Não fazemos política por calculismo ou por arranjos em relação aos governos. Temos um compromisso com os eleitores, candidatamo-nos com ele e procuramos maioria para todas as propostas que apresentamos. Já o conseguimos: liderámos um processo na preparação do referendo sobre o aborto que teve uma maioria esmagadora no país e lançámos outras questões, como a procriação medicamente assistida. Em todas as questões procuramos maioria e um diálogo político que permita decidir sobre os assuntos que estão em cima da mesa. Portanto, votaremos sempre todas as propostas que contribuam para esse grande combate pela igualdade e pela resposta capacitada à crise económica. O que não faremos é favores a troco de qualquer vantagem política. Porque isso é o que faz o CDS, foi o que fez Daniel Campelo, isso é a forma da degradação da política. Portugal precisa de uma política diferente.
A política orçamental tem de responder à crise. Olho para esta crise e para o que o Governo fez: orçamentou dois mil milhões de euros para soluções de recurso e de emergência para a economia, mas no princípio deste Verão tinha executado 120 milhões de euros. No mesmo período as indemnizações de oito accionistas do BCP, que foram corridos do banco por terem falsificado as contas, eram de 128 milhões de euros – um problema de ética na economia, como diz o Presidente da República.

É um problema de ética, mas estas indemnizações não dependeram do Governo.

Dependeram do BCP, mas isso mostra onde estão os pesos e as medidas na economia.

O seu discurso sobre a banca e sobre os banqueiros é generalizador. Designa os banqueiros como um bando de malfeitores. Com as expectativas do BE a médio/longo prazo não teme que o seu discurso possa condicionar futuras relações com uma força económica e social importante no país?

O pressuposto não é exacto. Não generalizo porque acho que a força do meu argumento é o exemplo concreto. Não há nenhuma generalização. Falo do BCP porque o conheço muito bem. Estive meses na comissão de inquérito do BCP, conheço todos os documentos sobre o banco e ouvi os depoimentos de Goes Ferreira, Paulo Teixeira Pinto e Jardim Gonçalves. Posso dizer tostão a tostão quanto é que eles levaram a mais e quanto é que o banco perdeu nas contas que já estão disponíveis.

Fala também no BPN. São todos malfeitores?

Nesses dois casos foram um bando de malfeitores. Foram mesmo. Quando Dias Loureiro vai com [Abdul Rahman] El-Assir, que é um traficante de armas libanês, perseguido pela justiça espanhola, fazer um negócio em Porto Rico, do qual resultam 38 milhões de euros que desaparecem, isso evidentemente é uma malfeitoria. E têm de responder por isso.
A democracia é uma questão de transparência na economia. Há alguma razão para que eu cale aquilo que hoje sabemos mas que nunca se soube até agora em Portugal? Porque escândalos destes houve muitos, mas estes são os primeiros em que sabemos exactamente o que fez cada um dos protagonistas. Porque houve uma boa comissão de inquérito sobre o BPN, houve uma comissão de inquérito prejudicada sobre o BCP (mas nos temos as contas do BCP, tenho um relatório sobre todas as operações na Baía de Luanda, está tudo explicado). E as pessoas têm ou não direito de saber? Tenho obrigação de o dizer. Porque só assim as pessoas podem olhar para a realidade da economia e perceber coisas que nós nunca soubemos que existiam.
Houve o caso do Banco Espírito Santo em relação aos dinheiros do Pinochet: o Senado norte-americano fez uma investigação em 2005 que não foi publicada em Portugal. Há alguma razão para que em democracia eu não me deva referir aos detalhes dessa investigação?

Mas no caso de Angola, por exemplo, esses bancos tiveram uma atitude diferente. Porque é que nunca se ouve da sua parte uma declaração a dizer 'olha aqui está um banqueiro a fazer bem'?

Eu conheço o essencial sobre Angola: a facilidade com que o Governo português estimula a presença da fortuna da corrupção nos grandes negócios em Portugal, que são 10 por cento do BCP, uma parte do BPI e uma parte importante da Galp.
Creio que o BPI se comportou bem em relação a essas decisões sobre Angola porque não aceitou pressões que eram inaceitáveis. Nunca escondi essa minha opinião. Agora o que está em causa nos negócios sobre Angola não é propriamente a capacidade de andar a avaliar cada um deles. É perceber, e é disso que eu tenho obrigação de falar, aquilo que eu acho que prejudica o interesse económico e prejudica a verdade na economia.

A Galp tem negócios com o Brasil, que não levantam grandes problemas, com a Venezuela e com Angola. A Galp não devia fazer negócios com estes dois últimos países?

Não direi isso. Acho que deve haver relações económicas com Angola. Devemos ter uma posição clara sobre questões que têm a ver com a liberdade de imprensa, quando os jornalistas portugueses são impedidos de entrar em Angola ou há jornalistas angolanos que são presos.
Acho que Portugal deve ter relações económicas com Angola. Não deve de forma nenhuma favorecer esta lógica da acumulação a partir da corrupção.


“CSI devia estender-se aos dois milhões de pobres do país”

Uma parte do eleitorado do BE gostaria de ver o partido a ter uma maior participação no poder, a colaborar e a fazer compromissos. Houve o episódio da câmara de Lisboa, com a candidatura independente deJosé Sá Fernandes. Não sente que esse eleitorado do BE espera mais do que aquilo que ele está a oferecer?

Espero bem que o eleitorado do Bloco seja muito exigente em relação ao BE. A política faz-se com palavras claras, com intervenção e com compromissos com os eleitores. E é isso que nós fazemos. No nosso programa dizemos que não há nenhuma razão para que se sacrifique ou se troque o sentido da resposta às pessoas que esse programa dá por qualquer vantagem política de curto prazo, que se traduza inevitavelmente numa derrota das políticas sociais necessárias.
Ao PS nós não os convencemos, só os podemos vencer. Não os vamos convencer nunca. O engenheiro José Sócrates é inconvencível de uma política sobre a segurança social que seja sustentável e que responda às pessoas. E ele acha mesmo que é preciso reduzir as pensões futuras. É inconvencível de uma política sobre a educação, é inconvencível de uma visão sobre o trabalho.

É possível não reduzir as pensões futuras quando temos mais idosos do que jovens?

Temos dois milhões de pobres que são idosos. O nosso problema é que existe uma geração sacrificada que está a acabar lentamente, e acabar na indignidade: os agricultores não podiam descontar no tempo do fascismo e não têm descontos formados; com as domésticas acontecia o mesmo. São 120 euros as pensões de sobrevivência e as pensões sociais. E depois, quando avançam com o Complemento Solidário para Idosos, que é uma boa medida, obrigam as pessoas a apresentar as contas dos filhos, mesmo que estes estejam emigrados e os pais não saibam onde é que eles estão. Há 200 mil pessoas que beneficiaram de uma boa medida que devia estender-se aos dois milhões de pobres, ou a uma boa parte deles que são os idosos. Esse grande esforço é despesa, mas é uma despesa transitória.

Todos querem que as pensões mais baixas cresçam mais depressa do que as pensões mais altas. Mas no futuro vamos ter menos pensões mais baixas porque as pessoas vêm de um sistema não contributivo; e vamos ter pensões mais altas elas forem calculadas de acordo com o que as pessoas contribuíram ao longo da vida. Mas há mais pessoas acima dos 65 anos do que existem abaixo dos 15...

É preciso encontrar formas diversificadas de financiamento desse sistema a partir de uma sociedade mais moderna, que produza mais valor acrescentado. Nessa geração os grandes ganhos das economias modernas são ganhos de produtividade intensíssimos. Ou seja, há muito mais valor acrescentado por unidade de produção. Essa é uma grande decisão democrática: se se permite que haja uma diferenciação teremos uma democracia da desigualdade no acesso às condições fundamentais.
Os modelos que temos até agora para dar resposta a isso fracassaram: é o modelo da privatização. Foi experimentado no Chile, onde a ditadura de Pinochet privatizou todo o sistema de segurança social. É o primeiro caso no mundo que chegou à maturidade: essas pessoas já estão hoje na reforma. O sistema teve de ser renacionalizado e pago em dívida pública porque as pensões eram menos de metade daquilo que as pessoas tinham adquirido em seus direitos. O sistema de privatização foi um fracasso. Como aliás se vê nos fundos de investimento e nos fundos de pensões privados em Portugal, que jogam a partir de capitalização da Bolsa.
Falhando esse sistema, eu defendo um sistema público de repartição intergeracional, que tenha várias formas de financiamento, não as formas tradicionais.

O BE defende em concreto a reforma ao fim de 40 anos de trabalho e descontos. Temos uma esperança de vida que se aproxima dos 80 anos. Na prática, o rendimento do tempo de trabalho, entre o que se paga aos descendentes e o que se paga aos ascendentes por via das transferências, é metade.

40 anos é uma vida de trabalho. Não tem sentido pensar em aumentar sempre a idade obrigatória da reforma. Acho que é possível ter reformas de envelhecimento activo, que permitem às pessoas a opção de continuar a trabalhar depois de 40 anos de trabalho, com benefícios de valorização da sua pensão, diversificando as formas de integração na vida social. Nesse caso, essas pessoas também descontam.
Mas o princípio de que quem descontou 40 anos pode ter acesso à reforma em função dos valores que adquiriu do seu desconto é um bom princípio. É absurdo que na idade do desenvolvimento máximo da tecnologia e da capacidade de produção humana se tenha que aumentar a idade da reforma tendencialmente até à idade da morte. Quando foi instituído os 65 anos como idade de referência as pessoas morriam aos 65 anos. Não havia reforma. E não tem nenhum sentido, quando temos duas gerações com muito mais capacidade de produção, que não utilizemos uma parte desse produto, dessa riqueza, para as pessoas. É um grande esforço, sim senhor, mas é uma opção da democracia.

Esse esforço coincide com outro grande esforço, na área da saúde, que tende a ser a próxima bomba relógio das despesas públicas. Gastando esse dinheiro aí (no final da vida gasta-se mais na saúde), o resto fica para quê?

A despesa pública é de 45 por cento. Na média dos países da UE é superior. Portanto a despesa pública é cerca de metade do Produto Interno Bruto. Devemos discutir intensamente como é que ela é utilizada. Isso é uma opção da democracia. É total desconfiança na democracia achar que as pessoas não devem tomar parte ou não são capazes de tomar decisões tão importantes como saber se os recursos que são os seus contributos devem ou não ser utilizados para a melhoria de um serviço público que seja universal, de saúde ou de segurança social. Que têm custos acrescidos ao longo do tempo, é verdade. Mas é assim que devemos decidir. E devemos decidir se é para isso que utilizamos uma parte dos recursos que temos ou se, pelo contrário, queremos uma sociedade mais desigual e se o enriquecimento dos beneficiários do regime económico é mais vantajoso do ponto de vista democrático.
Se fizermos a opção da democracia mais igualitária temos um país que vive melhor consigo, temos uma situação de confrontação e de vida social totalmente distinta da selvática, em que os ricos se refugiam em condomínios protegidos por exércitos privados de desesperados que não têm acesso à saúde. Essa é a opção que temos de tomar. Mas também digo que é preciso poupar, que é preciso fazer custos poupados. E o Governo não os faz.
Dou um exemplo, na área da saúde: vamos gastar mais saúde? Vamos. Temos de poupar mais na saúde? Temos de poupar. O Governo deu três hospitais a consórcios privados para a gestão até 2040: dois deles, o de Vila Franca de Xira e o de Braga, vão ser entregues ao Grupo Mello, que foi corrido do Hospital Amadora-Sintra porque as contas não batiam certo, porque era incompetente, e logo a seguir deram-lhes estes hospitais por trinta anos.

Em relação ao Amadora-Sintra o resultado do inquérito foi que aquilo que o Estado gastava a tentar controlar as contas do hospital não compensava. Era uma soma nula.

Quer dizer que as contas não batem certo, que não vale a pena, não tem sentido. E a Inpecção Geral das Finanças fez um relatório que identificou 75 milhões de euros a mais gastos em custos excessivos porque os doentes eram contabilizados várias vezes quando passavam de serviço para serviço e o hospital cobrava várias vezes por cada um deles. Conheço isso muito bem.
O primeiro-ministro foi ao Parlamento dizer que estava a tomar uma medida porque havia desperdício e gastos errados no Amadora-Sintra, tirando-o ao Grupo Mello. Logo a seguir deu dois hospitais ao Grupo Mello. Portanto ficamos conversados quanto à contenção de custos. Porque se o Grupo Mello vai gerir os hospitais durante 30 anos vai pagar aos accionistas e o que estes recebem são 15 a 16 por cento. Além dos custos do hospital a remuneração do capital é 15 ou 16 por cento. Se a gestão do investimento fosse feita em dívida pública era dois por cento. Lamento muito mas é uma perda de custos.


O Bloco não será governo “sozinho”

Além da saída de Portugal da NATO, o programa do BE defende ainda o desarmamento universal e a desmilitarização das Forças Armadas. Trata-se de uma declaração de princípios. Não teme que estas tomadas de posição levem uma parte do eleitorado a nunca encarar o BE como uma real alternativa de Governo, mas sempre como uma força de contrapoder?

Esse resumo não é exacto. Propomos um conceito estratégico de defesa. Não é a desmilitarização. É preciso que haja capacidade militar, defendemo-la, mas achamos que ela deve ser adequada às necessidades do país.

Como é que vê o funcionamento das Forças Armadas se rejeita um sistema de alianças?

Devem ter sistemas de alianças e de cooperação militar. Mas propomos regras sobre isso e acho que Portugal não deve ter cooperação militar com Estados ou com países que usam sistemas de terror na sua intervenção militar, com países que violam a convenção internacional sobre o uso do fósforo branco, por exemplo, e outras armas de destruição massiva.

Mas o desarmamento universal é exequível?

Não encontra desarmamento universal no nosso programa. O que diz é que tem de haver redução das capacidades militares. Os EUA e a Rússia não estão a negociar a destruição de uma parte dos seus arsenais nucleares? Não há nenhuma razão para que essa negociação não se estenda a armas potencialmente genocidas. Há mais segurança se houver controlo. Se o Paquistão, a Coreia do Norte ou o Irão tiverem armas nucleares há mais insegurança. É claro que a extensão do armamentismo e exterminismo militar é insegurança.
Sobre a questão do contrapoder: o BE é um partido do protesto, da luta social e por isso é que é uma proposta de Governo.

A luta social compreende-se, o protesto nem tanto, uma vez que querem ser Governo. Um antigo membro do BE, Miguel Vale de Almeida, escreveu recentemente que ainda não viu “sair o Bloco da lógica do ‘quanto mais dificuldades e tensões sociais melhor’”. O que ele estava a dizer é que o BE ainda não se tornou num partido capaz de fazer os compromissos necessários para ser Governo.

Está a falar-me de uma pessoa que, com toda a liberdade, decidiu ir para o PS, como candidato. Tem uma visão diferente da política daquela que tem o BE.

Para um partido de protesto ter sucesso é conveniente que existam tensões sociais e dificuldades...

As tensões sociais estão à nossa volta. Não inventámos uma única delas. Quando queremos defender o emprego na Auto-Europa é porque há uma crise geral do sistema industrial e uma crise da procura que leva a riscos imensos de trabalhadores que estão submetidos ao Código do Trabalho. As tensões são estas. Nós respondemos às tensões sociais. Um país que tem dois milhões de pobres não tem fracturas sociais? Não há desespero? 400 mil trabalhadores temporários?
É claro que um partido protesta perante a fractura social. Só pode protestar em coerência se tiver uma alternativa. Nós queremos ser medidos, como o Governo é medido, pela capacidade de governar, de dar propostas que sejam executáveis, que façam maioria no país. Se o BE tem crescido é porque os eleitores o vêem como uma proposta coerente.

O BE, sozinho, pode um dia ser governo? Acham isso uma hipótese real?

Os eleitores vão decidir. Queremos fazer parte de uma esquerda que governe.

Então não estarão sozinhos.

Não, não seremos sozinhos.

Essa esquerda inclui o PCP?

Essa esquerda inclui quem, na altura, fizer parte de uma grande confluência por um programa político que responda ao país.

O exemplo da Auto-Europa é propício para se saber até onde podem ser feitos compromissos. A figura principal da Comissão de Trabalhadores é Antonio Chora, um dirigente do BE, que fez um compromisso com a administração só possível porque entretanto houve um novo Código do Trabalho. Nessa altura houve uma tensão na fábrica que foi interpretada comouma guerra entre bloquistas e comunistas. Lendo o programa do BE sobre o Código do Trabalho não se percebe como é que aquele acordo foi possível.

Nada nessa história bate certo, nada. O acordo que vigora foi feito antes do Código que está regulamentado. É contrário ao Código Laboral. As regras de negociação sobre a utilização dos horários de trabalho e os dias de não trabalho que são pagos têm um aumento de ordenados; têm a inclusão obrigatória dos trabalhadores com contrato a prazo como trabalhadores efectivos; têm regras que são extraordinariamente vantajosas para os trabalhadores.
Neste último acordo que foi rejeitado pelos trabalhadores houve de facto uma tensão grande. Mas os trabalhadores decidem e a Comissão de Trabalhadores aceitou a decisão do plenário, e ganharam agora a redução do lay-off. Neste contexto houve sempre posições muito diferentes. Os dois sindicalistas que mais se destacaram nos últimos anos em Portugal – Carvalho da Silva e António Chora – estavam de acordo nestas questões. Em termos concretos da luta a Comissão de Trabalhadores da Auto-Europa ganhou.

Ganhou porque negociou e teve de fazer compromissos.No programa do BE, para além da defesa da revogação do Código do Trabalho, existem regras que talvez nem os Códigos de 1975 tiveram. As vossas propostas tornam mais rígidas as negociações.

A negociação existe sempre. A negociação do Acordo de Empresa ou do Contrato Colectivo é sempre por negociação e o acordo é assinado por duas partes.
Há empresas que fazem trabalhos por turnos como se fosse trabalho normal. Há call-centers onde as pessoas trabalham 8 horas seguidas e ganham 500 euros; são 3,5 euros por hora. Isso é que é a liberalização do trabalho. A flexibilização do trabalho não é a qualificação do trabalho. Eu sei que a doutrina económica liberal nos diz que quando há desemprego há sempre uma solução: baixar os salários. E é isso que o Governo está a fazer: ao reduzir a remuneração das horas extraordinárias está a baixar os salários.
Os empresários têm em média a quarta classe e os trabalhadores são pessoas que foram sacrificadas toda a vida. É claro que precisamos de trabalho mais qualificado, portanto mais bem pago.

Quem é que cria esse trabalho mais qualificado?

A economia.

Mas as propostas do vosso programa não são no sentido de apoiar empresas em risco.

Veja a nossa política sobre o crédito: é criar credito que facilite o funcionamento da economia, nomeadamente as que estão em risco e têm capacidades tecnológicas.

No âmbito da carga fiscal não ajudam as empresas, nem há Taxa Social Única.

A Taxa Social Única é uma invenção da dr.ª Manuela Ferreira Leite para reduzir o financiamento da segurança social e facilitar o seu projecto de privatização da segurança social. O dr. Paulo Portas acha que pode resolver os problemas da pobreza no país tirando dinheiro aos mais pobres.
São feitas promessas às empresas, de que lhes vão reduzir os custos em impostos e, portanto, reduzir a receita do Estado, quando há 30 mil milhões de euros em Portugal que não pagam imposto. Em Portugal perde-se em imposto todos os anos mais do que todo défice que temos este ano. Do que precisamos é de mais clareza fiscal. Se existir um esforço fiscal mais justo, segundo as regras, todos beneficiamos.

Mas a carga fiscal global não pode crescer mais do que está.

Não fizemos nenhuma proposta para crescer a carga fiscal. Onde faz falta um apoio do Estado à economia é onde se pode fazer a diferença na criação de valor acrescentado.

Onde é que se vai buscar esse valor acrescentado?

Temos medidas de urgência a tomar agora e a nossa proposta é no pelouro da reabilitação urbana para que nas cidades grandes e médias se possa fazer uma reabilitação de casas e reduzir o peso do valor do aluguer da casa, devolver aos proprietários pobres condições para reabilitar as casas. Uma boa experiência que foi feita em França e noutros países europeus.

Na reabilitação criam-se postos de trabalho não muito qualificados...

E transitórios. É uma medida anti-crise.


A disputa bloquista é com o PS e o PSD

Existe ou não uma marcação partido a partido entre o PCP e o BE, tendo a consciência de que no dia em que se aproximarem do Governo perdem uma parte do eleitorado?

Eu não respondo pelo PCP. Não temos qualquer competição com o PCP. Isso seria total falta de visão. A nossa competição é com o PS e com o PSD. Temos diferenças de identidade, de projecto, de estratégia, de programa.
Os eleitores do BE são sobretudo jovens e os eleitores do PCP são mais idosos. Mas no país inteiro, onde o BE é a terceira força (no Algarve, todos os distritos a Norte do Tejo) o que o BE representa é o desafio político, que espero que seja o mais profundo, ao PS e também ao PSD. Esse é o nosso objectivo, a nossa disputa é essa e não nos apoucamos com outras disputas políticas. Chegar ao Governo é conseguir uma força social que nos não temos ainda.

Se esse é o vosso posicionamento não deveriam mudar de lugar na Assembleia?

Não. É um lugar histórico que temos, a nossa representação é ali.

A extrema-esquerda.

Não, a esquerda da Assembleia.

O lugar mais èsquerda da Assembleia.

É onde estamos e onde nos sentimos bem.

Há muitas pessoas do BE, ou que foram do BE, que vieram das três forças que deram origem ao Bloco. Duas delas, o PSR e UDP, mantêm a sua identidade, têm sites na Internet. No site do PSR, por exemplo, encontra-se relações com a IV Internacional. Porque é que esse relacionamento e essa identidade não são mais claras para o eleitorado?

No BE há uma grande diversidade de opiniões. E há sensibilidades e correntes históricas que fazem parte de trajectórias políticas das pessoas. Eu represento o BE. Falo pelo BE, não falo por nenhuma sensibilidade. Porque o BE é, como tem sido e como os eleitores o conhecem muito bem, uma representação política.

Mas não deixou de ter relações ao mais alto nível na IV Internacional.

Eu tenho as opiniões que tinha desde os 15 anos. O meu trabalho político todas as pessoas conhecem. Sou dirigente do BE, não faço parte de outros órgãos de direcção. Não faço parte de nenhuma outra estrutura política. O BE tem a confiança de pessoas que nunca pertenceram a outros partidos e essas pessoas têm toda a força e toda a capacidade dentro do Bloco porque determinam. Será sempre um movimento plural.

Desde os 15 anos até hoje não tem a mesma identidade na plataforma do Bloco.

São histórias diferentes. O BE tem 10 anos de actividade, responde pela sua política. Eu fui, desde novo, um socialista à esquerda.

Era um revolucionário?

Com certeza.

E hoje continua a ser um revolucionário?

Sou socialista. E sou contra o capitalismo, é verdade. É o que está escrito na plataforma do BE. O socialismo em Portugal, para nós, é um projecto contra o capitalismo. É anti-capitalista, sim senhor, com todo o gosto pelas palavras e com toda a clareza.

O PSR era o Partido Socialista Revolucionário. Foi um revolucionário. Hoje já não o é?

Eu sou o que sempre fui. Penso da mesma forma. Aprendi muito, em muitas questões. E o que aprendi, mais do que tudo, é que é preciso uma política que seja determinante e que só pode ser determinante se for muito clara. E é por isso que sobre o socialismo, ao contrário de muitos outros, no BE as coisas são tão claras que não permitem nenhuma dúvida.
O socialismo quer dizer combater a exploração e combater o capitalismo como forma de desigualdade social. Mas quer dizer também recusar os regimes de partido único ou de censura, ou de ataque à liberdade de opinião, como a China, a Coreia do Norte, a antiga União Soviética.

Qual é a tradução desse socialismo na economia?

É uma economia em que as necessidades são democraticamente estabelecidas pelo acesso público: a saúde e a educação são necessidades, são públicas.

A alimentação também é tão importante como a saúde e a educação.

Certo. Mas a alimentação é produzida de outra forma, a saúde não. Se somos desiguais perante a saúde isso quer dizer que há uma fractura irreparável no acesso às condições elementares da vida. É claro que a alimentação é suportada quando nós apoiamos os pobres.
Há um livro muito curioso do Darwin, que era visto como um protector do darwinismo social por alguns dos seus apoiantes, e que explica por que é que as sociedades humanas contrariam a selecção natural. Nós seleccionamos os processos anti-selectivos porque protegemos os pobres, apoiamos os portadores de deficiência, submetemos à competição aberta as pessoas.

O Banco Alimentar Contra a Fome é uma organização de apoio aos pobres e não é pública. Portanto não se enquadra no seu socialismo.

Enquadra-se. Há iniciativas sociais do terceitro sector, da solidariedade social, que fazem parte desse cuidar dos outros, como faz a AMI, como fazem muitos outros. Nós apreciamos esse trabalho. Ele é indispensável. Há redes sociais que a Igreja Católica tem, e que outros sectores têm, que são importantíssimos na forma de cuidar das pessoas. O que não quero é que a saúde seja espartilhada entre as condições económicas que separam dramaticamente os ricos e os pobres. A maioria dos portugueses não quer uma solução de privatização da saúde ou da segurança social.



As indemnizações nas nacionalizações são uma “questão posterior”

Voltando às nacionalizações. Em seu entender deve haver lugar para indemnizações?

Essa é uma questão posterior. A questão que está hoje na política portuguesa é saber se devemos ter o sector da energia público ou privado e se devemos privatizar, como fez José Socrates, ou se devemos desprivatizar, como nós propomos. E essa é a questão decisiva. Porque só decidindo isso é que podemos falar sobre as condições.

Está a dizer que essa é uma questão posterior e a falar para milhares de pessoas que têm acções na EDP.

Não estou a falar das acções distribuídas ao público. Estou a falar dos grandes fundos de pensões que detêm o poder accionista estratégico sobre a empresa.

Se nacionalizasse a EDP o que aconteceria a estas pessoas com acções?

Ficariam com elas. E seriam valorizadas na Bolsa.

Não seria uma empresa pública...

Uma empresa de capitais públicos pode estar na Bolsa. Porque é que não pode estar?

Então não é bem uma nacionalização.

Temos de decidir se é o Americo Amorim e o José Eduardo dos Santos que controlam a distribuição de combustíveis em Portugal. É isso que temos de decidir. Acho que é errado do ponto de vista estratégico nacional, é errado do ponto de vista económico, é errado do ponto de vista do orçamento. Perdemos dinheiro. Eu faço as contas sobre o dinheiro que perdemos do ponto de vista do orçamento. É ineficiente. Se o critério é a eficiência, e tem de ser, é ineficiente. Perdemos dinheiro.
Ainda por cima eu vejo as contas da Galp. A Galp ganhou 500 milhões de euros este ano. 100 milhões de euros foram porque manipulou os preços. Algo reconhecido, está no relatório. Chamam-lhe viscosidade dos preços. E o presidente da Autoridade da Concorrência explicou-nos, com uma candura que só lhe fica bem, que viscosidade quer dizer que quando os preços do petróleo baixam a nível internacional cá o preço baixa muito devagar; e quando os preços sobem a gasolina sobe muito depressa. Só com essa diferença de cêntimos por dia são 100 milhões de euros de lucro. As contas são estas e estamos a perder com essa opção estratégica. Uma economia mais responsável não se permite perder dessa forma.


O BE não percebeu a “dinâmica” gerada pela candidatura de Manuel Alegre

Admitiu recentemente que apoiará uma eventual candidatura de Manuel Alegre à Presidência da República. Porque é que não o fez em 2005, quando ele se candidatou como independente, sem o apoio do PS?

Não foi bem isso que eu disse. Quando ele se candidatou provou ser o candidato que tinha mais capacidade de obrigar a uma segunda volta. E acho que isso não foi percebido. O BE e muitos outros não percebemos essa dinâmica social que estava a ser gerada à volta da candidatura.

Subestimaram a candidatura e o candidato?

Não sentimos a força social que ela estava a representar. E é fundamental reconhecê-lo.

Num livro sobre a campanha de Mário Soares ele diz que falou consigo algumas vezes e que o senhor não cumpriu a sua palavra.

Ai isso ele não pode dizer. Eu não li essa parte, mas de certeza que ele não pode dizê-lo. É verdade que tentou [um acordo com o BE] e eu disse-lhe que não. Factos são factos e tenho a certeza que ele não me desmentirá. Depois disso encontrei-me várias vezes com Mãrio Soares, tenho muito gosto nisso.

Há pouco disse que afinal não assumiu apoiar uma eventual candidatura a Belém de Alegre.

Eu não posso antecipar uma decisão individual de outra pessoa. Alegre tem de dizer se é candidato ou não e até agora não o tem dito. O que eu disse foi que se houver uma candidatura como a de Manuel Alegre, que contribua para uma clarificação política e para a rejeição destas estratégias que têm conduzido à crise econõmica e à desorientação social, então certamente que ela terá uma força extraordinária.

Mesmo que seja uma candidatura apresentada e apoiada pelo PS?

Ele é que tem de escolher como aparece ou como deixa de aparecer. Mas um candidato presidencial é sempre por si próprio, é uma candidatura na independência da posição de cada um.

Nas últimas eleições presidenciais existiam dois candidatos socialistas.

Mais uma razão para pensar que Manuel Alegre é uma pessoa que afirma sempre a sua independência e a sua visão na sociedade portuguesa. Uma visão que contribua, como ele já fez em 2005, para uma clarificação sobre as grandes opções sociais em Portugal, para o combate à dívida interna, à fractura social. Desta forma, será uma candidatura que tem uma capacidade de movimentação muito importante. E as próximas eleições presidenciais eu não as subestimo. Pelo contrário, dou-lhes a maior importância porque vamos ter um Governo de maioria relativa, qualquer que ele seja, e vamos ter dificuldades sociais e económicas que vão prolongar-se nos próximos anos, com uma grande transformação política em curso. A campanha presidencial vai ser das mais clarificadoras na política portuguesa.

Entre as legislativas e as presidenciais resta somente um ano e quatro meses, sensivelmente. O horizonte das presidenciais condicionará os acordos que o BE possa fazer no Parlamento?

Não faremos acordos que não sejam sobre políticas que respondam à crise.


“Dar a Ferreira Leite e a Portas o Governo era o mesmo que pôr Dias Loureiro à frente do Banco de Portugal”

Perante um Governo minoritário do PS se surgir uma moção de censura o voto assumirá uma grande responsabilidade...

É sempre uma grande responsabilidade e o critério (diante um Governo com maioria absoluta ou sem ela) tem de ser o mesmo. Não aprovamos uma moção em função dos seus fundamentos, mas em função da vida política nacional. Não aprovámos as moções de censura do PSD e do CDS [o BE absteve-se] porque eles que queriam levar a sociedade portuguesa num caminho contrário àquele que pretendemos. Não fazemos nunca a política do quanto pior melhor. Os votos do BE nunca falham à esquerda.

Por essa lógica o BE teria, se existisse na altura, ajudado a derrubar o primeiro Governo de Cavaco Silva.

Não sou admirador do contrafactual na História. Acho que é tolice organizada em presunção intelectual. Não há nenhum direito de inventar histórias que não se passaram. Isso não me interessa. Isso é terrorismo intelectual. Se estivesse no primeiro avião que bombardeou Bagdad teria lançado a bomba ou não? Desculpe, mas isso não tem qualquer sentido.
Nós não votamos nada em que não saibamos as consequências da nossa votação. Somos um partido que representa 10 por cento do eleitorado e vai representar muito mais.

Insistimos: não pode excluir o PS. Porque não pode falar numa maioria de esquerda só com o BE e o PCP.

Excluo o PS. Não vamos fazer um acordo com o PS.

Mas fazem distinções entre o PS liderado por Sócrates e o PS com outro líder.

Não ando a fantasiar PS's.O PS é o que é e o que escolhe sempre ser.

O PS de Sócrates é então igual ao de Ferro Rodrigues.

Não, têm políticas diferentes. Mas como se percebeu Ferro Rodrigues não tinha qualquer peso do PS que fosse determinante. José Sócrates é o PS.

Ferro Rodrigues e o PS tiveram de se confrontar com o processo Casa Pia.

Ele foi abalroado por isso. Ele não tinha a liderança natural do PS que tem José Sócrates. José Sócrates é o PS profundo. É o que o Guterres tinha, é o que o Jorge Coelho tinha. Eu não discuto este e aquele PS. O que digo é que há tanta gente descontente...

Mas quando lamenta que os alegristas tenham sido excluídos das listas de candidatos às legislativas está necessariamente a fazer uma distinção.

Constato. Estou a dizer que no PS há muita gente que não quer uma política como aquela que a maioria absoluta levou a cabo. E essas pessoas são indispensáveis para uma maioria que faça governar a esquerda.

Para essa maioria que fará governar a esquerda seria compensatório que o PSD ganhasse as legislativas, tendo em conta objectivos a médio/longo prazo?

Já disse muitas vezes que não faço política de terra queimada. Quero o que melhor vá aproximando todas as políticas das respostas mais exigentes. Dar à dr.ª Manuela Ferreira Leite e ao dr. Paulo Portas o Governo era o mesmo que pôr o dr. Dias Loureiro à frente do Banco de Portugal.

Porque é que faz essa comparação entre Dias Loureiro e Manuela Ferreira Leite?

Não estou a fazer uma comparação.

Há pouco chamou-lhe criminoso.

Se é criminoso a justiça o dirá.

Mas fez dele um retrato muito pouco abonatório. É o mesmo retrato que faz de Manuela Ferreira Leite?

Não, não é. Mas o PSD é um partido dos negócios, é um partido tentacular dos negócios que foram porotagonizados pelos seus maiores. Não foram por marginais do partido. Foi a estrutura essencial da governação cavaquista que fez o negócio do BPN. Oliveira e Costa dirigia a máquina fiscal do país. São imensas responsabilidades políticas de toda a teia de interesses que se construiu na gestão económica de quem tinha o poder total no partido.

Quem o ouve até parece que quer que o PS ganhe.

O PS e o PSD não são competentes para responder à crise.

Quem é que é competente?

É a resposta do BE.

O BE está preparado para ser governo agora e para responder à crise?

Estamos preparados para essa luta. E queremos ter votos de quem achar que merecemos essa confiança. Por isso é que o BE tem crescido ao longo das eleições e os eleitores nos olham como parte dessa resposta essencial. Agora quando perguntam se é com o PS que o fazemos, digo-lhe que não. É preciso uma esquerda, um partido, uma força que seja governante para esquerda e isso exige uma reconfiguração da esquerda.

A reconfiguração do BE significa o quê?

Para haver uma esquerda de maioria é preciso uma aprendizem intensíssima sobre a política. Se temos 11 por cento nas últimas eleições, precisamos de chegar a muitas mais pessoas, de aprender mais e de ganhar mais capacidades de governação. Portanto, de mais conhecimento da vida social, mais representação social e isso será feito encontrando muitas pessoas que hoje são do PS ou que são de outras cores da esquerda.

Os encontros com Manuel Alegre foram uma primeira oportunidade falhada?

Pelo contrário, foi totalmente bem conseguida. Nunca houve o objectivo, nem nosso nem de Manuel Alegre, de fazer um partido a trouxe-mouxe. Os encontros anunciaram que não eram iniciativas para eleições de curtíssimo prazo e que eram mais profundas ainda.

Ficou a ideia de que algo foi iniciado e interrompido abruptamente.

Foi iniciado e vai continuar.

Ana Sara Brito e Helena Roseta, duas figuras importantes da candidatura presidencial de Alegre, estão hoje com Antonio Costa. Isso não é uma contrariedade?

Não. Ana Sara Brito já tinha estado ligada a Costa. No caso de Roseta, é uma opcão livre que ela tem.

E do ponto de vista daquilo que poderia ser o vosso resultado em Lisboa?

Não nos prejudica. O BE é forte nas alternativas sobre Lisboa, vamos decidir sobre políticas sociais, políticas de transportes, políticas de utilização do espaço público., reabilitação urbanística.

Nunca tentaram envolver Roseta numa eventual coligação?

Nunca tivemos nenhuma reunião com Roseta sobre essa matéria. Exprimimos a nossa disposição para ter conversas nesse sentido. Mas não houve caminho para isso. E percebo. Talvez seja um pouco cedo de mais. Mas isso não prejudica em nada os projectos futuros.

Tem noção de que há eleitores que estão em dúvida sobre se votam BE ou PSD para que Sócrates não vença as eleições?

O BE representa cada vez mais eleitorados populares. Nestes comícios que fiz falei com muitas pessoas e encontrei muitos socialistas e também gente que votava PSD. Ao disputar o eleitorado popular, o BE também responde a muitas pessoas que, no interior do país e nas zonas pobres das grandes cidades, reconheciam-se no PSD e porventura agora podem ter uma posição diferente

terça-feira, agosto 18

Como retirar um vírus que se instala automaticamente nos discos USB...

http://vil.nai.com/vil/content/v_141387.htm

http://vil.nai.com/vil/SystemHelpDocs/DisableSysRestore.aspx

1. Descarregar o stinger do site da McAfee.

2. Correr o software em todas os discos.

3. No caso o stinger descobre o
C:\RECYCLER\S-1-5-21-8904150422-4034537149-644461735-2333\winigon.exe
mas dá a mensagem de erro
"could not be repaired"

4. Start>RUN>regedit
Edit>find>winigon.exe
apagar todas as entradas encontradas

5. Start>RUN>cmd
c:
cd \RECYCLER\S-1-5-21-8904150422-4034537149-644461735-2333\
del winigon.exe
se apagar, óptimo. Caso contrário dá o seguinte erro:
"The process cannot access the file because it is being used by another process."

6. Descarregar o Process Explorer

7. No Process Explorer:
FIND>find handle...
handler or dll substring: winigon.exe
Carregar duas vezes > carregar coo lado direito do rato > close handle

8. Se não der :( , fazer ALT+CTRL+DEL e matar o processo explorer.exe

9. voltar à janela de DOS e tentar apagar de novo o ficheiro à mão.

10. verificar no regedit que todas as entradas foram apagadas. se não foram, apaga-las.

10. abrir de novo o explorer (ALT+CTRL+DEL task manager>RUN>explorer)

11. Boa sorte. :)


a) a mesma coisa para C:\RECYCLER\S-1-5-21-1974300276-0101549108-108192116-3244\winmap.exe

b) em caso de desespero, entrar com um livecd linux, executar:
chmod 777 /RECYCLER
cd /RECYCLER/
rm *
cd ..
rmdir RECYCLER

c)o melhor mesmo é procurar no registry tudo que meta RECYCLER e apagar.:)
cd /RECYCLER/
del * /s /Q /a:r h s a

d)chamar a cavalaria:
HijackThis
spybot
AD-Aware
Free Registry Cleaner

terça-feira, julho 21

Router Pirelli Broadband DRG A223G (SAPO ADSL)
O equipamento tem uma password de administração que por defeito é igual ao de utilizador (user:user).

quinta-feira, julho 16

E quando de repente ao utilizar o digikam as fotografias são colocadas no lixo. Vamos ao lixo do Mac, mas a foto que queremos recuperar não está lá. ONDE ESTÁ ELA???

Calma. A fotografia não foi efectivamente apagada.

Abrir uma janela de terminal e fazer os seguintes comandos:

$cd /Desktop/.Trash/
$ ls
$mv P1000543.JPG ~/Digikam\ Albuns/2009-07-13/

A última linha move o ficheiro JPG para a directoria de onde foi originalmente apagado.

O dia está salvo. :)

segunda-feira, julho 6

Como visualizar os ficheiros escondidos no Finder, em Mac OS X.
Abrir o terminal e em linha de comando executar o seguinte:

defaults write com.apple.finder AppleShowAllFiles TRUE
killall Finder

para voltar à definição inicial, colocar o valor a FALSE.

sábado, julho 4

Instalação do DIGIKAM em Mac OS X. É um software de gestão de fotografias, alternativo ao Adobe Bridge, IPhoto ou Picasa.

Requer ligação à internet.

I-instalar o fink.
II-instalar X Code
III-em linha de comando:
$ fink selfupdate-cvs
$ fink selfupdate
$ fink index -f
$ fink selfupdate

Esta sequência de comandos é necessária devido a um bug conhecido)

$ fink install digikam
(deixar os valores por defeito e esperar várias horas [mais de sete...])

$ digikam

:)



Complemento
Como instalar software linux num Mac:
http://www.simplehelp.net/2007/05/09/how-to-install-linux-applications-in-os-x-a-complete-walkthrough/

(Com a grande vantagem de poder ser feito em modo gráfico e não em linha de comandos.)

Adenda
Se depois de instalado, desaparecer o menu do Digikam, é necessário editar o seguinte ficheiro:
~/.kde/share/config/digikamrc

E remover a seguinte linha manualmente:
MenuBar=Disabled

terça-feira, junho 2

JORGE MANUEL DO NASCIMENTO MEDEIROS CABRAL
Regional
Diario dos Açores
03/06/2002 07:06:7

Nasceu em Ponta Delgada, na casa n.º 9 da Rua da Fonte, em 11 de Março de 1948.
Após a instrução primária nas Escolas de Ribeira Funda e Mãe de Deus, fez uma curta passagem pelos Seminários do Senhor Santo Cristo e Episcopal de Angra do Heroísmo, de onde ingressou no 2º Ciclo do antigo Liceu Nacional de Ponta Delgada, terminando o 3º Ciclo (7º ano dos antigos liceus; exc. Latim), da Alínea D - Histórico-Filosóficas.
Durante os seus estudos liceais, foi co-autor, produtor e apresentador de "Voz Académica", o primeiro programa de rádio estudantil no então Emissor Regional dos Açores da Emissora Nacional de Radiodifusão; desempenhou o papel de primeiras figuras em peças teatrais ("O Entremez da Muda Casada", "O Siciliano ou Pintar por Amor" e "As Profecias do Bandarra"), para além de ter sido Presidente de uma Comissão de Finalistas.
Venceu os primeiros prémios da categoria "Conto" nos Jogos Florais do Liceu Nacional de Ponta Delgada de 1968, com a produção "Feliz Natal, Querida", e de 1969, com "O Negro Rafeiro".
No mesmo ano, ingressou no serviço militar obrigatório, sendo, em Julho de 1970, mobilizado, em plena guerra colonial, para a antiga Província ultramarina da Guiné-Bissau, onde foi colocado na Repartição de Informações do Comando-Chefe das Forças Armadas, transitando, mais tarde, para a Repartição de Operações, com funções de Adjunto.
Na Emissora Oficial da então Guiné Portuguesa, co-produziu os programas "Açores no passado e no presente" e "Dimensão 3".
Após a Comissão de Serviço na antiga colónia portuguesa, foi louvado pelo Chefe do Estado Maior com expressivas palavras de apreço, tendo-lhe sido atribuída a Medalha Comemorativa das Campanhas da Guiné.
Em 1972 fez parte dos quadros da Agência de Viagens Ornelas, período em que foi co-autor e apresentador de programas de rádio de grande impacto, entre os quais se incluem "Contágio", "Açores 80" e "Improviso 75".
Ingressou oficialmente no Emissor Regional dos Açores da Emissora Nacional de Radiodifusão em 1974, onde exerceu, sucessivamente, funções de responsável pelos Serviços de Informação, Coordenador de Canal, Chefe de Serviços de Programas e Supervisor.
Paralelamente, fez um exaustivo levantamento de Filarmónicas e Grupos Folclóricos em quase todas as ilhas dos Açores, produzindo programas que visavam estimular a manutenção, aperfeiçoamento e divulgação daqueles agrupamentos.
Organizou e concretizou os "Primeiros Jogos Florais da RDP/Açores", tendo sido louvado por isso pelo então Conselho de Administração da RDP-E.P., que, de igual modo, reconheceu o seu trabalho na cobertura do trágico sismo de 1 de Janeiro de 1980, permanecendo cerca de 48 horas consecutivas aos microfones da RDP/Açores.
Dedicou-se a tarefas de âmbito social, entre as quais co-fundador da CODEVA (Comissão de Defesa dos Valores da Sociedade Açoriana); Vice-Presidente e Presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada; co-fundador do Lions Clube de S. Miguel como 2º Vice-Presidente; co-fundador do Boletim "O Sinal"; foi Membro da Comissão Diocesana para a Comunicação Social e tem cumprido diversos mandatos na Assembleia Municipal de Ponta Delgada, onde intervém frequentemente na defesa dos interesses das populações do Concelho, tendo sido eleito, por unanimidade, líder e porta-voz do Grupo Social-Democrata naquele órgão autárquico.
Juntamente com o saudoso Prof. Luciano de Resende Mota Vieira, organizou as comemorações do 150º Aniversário da partida do "Exército Libertador", que decorreram no Relvão, em Ponta Delgada, local onde os "Bravos do Mindelo" assistiram a uma Missa Campal, antes de iniciarem a sua histórica luta contra os ideais da Monarquia absolutista.
Em 1989 foi eleito Vereador da Câmara Municipal de Nordeste.
De 1 de Março de 1981 a 13 de Julho de 1997, dirigiu o Jornal diário "Correio dos Açores", onde subscreveu vigorosos editoriais em defesa das questões açorianas.
Foi eleito Deputado à Assembleia Legislativa dos Açores pelo Círculo Eleitoral de S. Miguel em 1984 e, durante 5 anos consecutivos, desempenhou funções como 1º Secretário da Mesa da Assembleia Legislativa dos Açores. Para além disso, foi Secretário da Comissão Parlamentar de Organização e Legislação; Relator da Comissão Parlamentar para os Assuntos Políticos e Administrativos; Presidente da Comissão Parlamentar de Política Geral e Membro da Comissão Parlamentar de Política Geral e Assuntos Internacionais.
Como Deputado em 3 legislaturas (12 anos), entre outras vertentes, colaborou assiduamente com a Câmara Municipal de Nordeste e foi autor de uma Proposta de Resolução, aprovada em plenário, que visou introduzir nos ensinos secundário e universitário, o estudo das novas teses da expansão dos descobrimentos portugueses para Ocidente.
Foi um dos Fundadores do Partido Social Democrata nos Açores, pertencendo à respectiva Comissão Instaladora com o pelouro da Comunicação Social.
Tem participado em numerosos Congressos, Seminários e Colóquios nos Açores, em Portugal continental, nos Estados Unidos da América, no Canadá, no Japão e em França, versando temática diversa e mantém estreitas ligações com as comunidades emigrantes nos Estados Unidos da América e Canadá, para as quais tem feito, ao longo de muitos anos, as reportagens radiofónicas das grandes Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em colaboração com Raúl Benevides, Director dos programas "Açores-Madeira" e "Despertar", emitidos na Nova Inglaterra, para além de várias participações nos Ciclos de Cultura Açoriana realizados em Toronto, sendo Sócio Honorário da Casa dos Açores daquela cidade. Na 16ª. Edição daqueles ciclos, apresentou uma comunicação intitulada "As Festas do Senhor Santo Cristo - As recomendações de Castilho", que foi vibrantemente aplaudida de pé pela numerosa assistência.
Pertenceu ao pequeno grupo de cidadãos que deu início à Festa do Emigrante, que, anualmente, congrega centenas e centenas de concidadãos residentes na diáspora, tendo sido por várias vezes chamado a apresentá-la.
Foi co-fundador da Associação de Amizade Açores - Hawai.
Tem vasta e multifacetada colaboração dispersa por jornais e revistas e tem sido moderador de inúmeros debates sobre temática variada (um dos quais a convite do Fórum Açoriano), e orador oficial em muitas manifestações de carácter político, social e cultural, entre as quais se destaca a apresentação de livros de consagrados escritores, nomeadamente Onésimo Almeida, Cristóvão de Aguiar e Manuel Ferreira (o nome do ilustre escritor dado a uma rua de Ponta Delgada foi uma proposta sua), entre muitos outros, e foi convidado a discursar no descerramento, em Ponta Delgada, da placa comemorativa dos 25 anos do "6 de Junho", cujo texto é da sua autoria, destacando-se ainda os seus discursos nas comemorações dos "25 Anos da Revolução do 25 de Abril", no Concelho do Nordeste; na inauguração da Rotunda do Emigrante na Vila do Nordeste, bem como nas comemorações dos 75 anos da Freguesia da Lomba da Fazenda, terra da naturalidade dos seus antepassados e na homenagem a D. Maria do Carmo Monte, fundadora e directora da Casa de Trabalho de Nordeste.
Um dos fundadores e primeiro Presidente da Cooperativa de Ensino "A Colmeia", tem o seu nome ligado ao Monumento ao Emigrante e ao Memorial dos Fundadores do Concelho de Ponta Delgada e, na Imprensa, tem defendido muitas causas de interesse colectivo, nomeadamente o Porto de Pesca Industrial de S. Miguel.
Para além da Medalha Comemorativa das Campanhas da Guiné, possui condecorações do Lions Internacional e do Past-Governador do Distrito Lionístico 115, Doutor Maia Gomes.
Foi nomeado "Cidadão Honorário do Concelho de Nordeste", por ocasião das comemorações do respectivo 475º Aniversário, por "relevante dedicação e elevado espírito de serviço" àquele Concelho.
Possui ainda inúmeras placas e "Citações de Apreço" das mais diversas origens, nomeadamente das Cidades norte-americanas de Fall River, New Bedford e Providence e dos Senados Estaduais de Massachusetts e Rhode Island, bem como do Governo da Província de Ontário, Canadá, para além de ter sido homenageado por mais de uma dezena de Filarmónicas da Nova Inglaterra, Estados Unidos da América, no decorrer de um dos Festivais de Filarmónicas ali realizados, que apresentou. Foi ainda o "Honnor Guest" (convidado de honra), do Império de São Pedro, em louvor ao Divino Espírito Santo, em New Bedford, e tem sido convidado a incorporar, em lugar de destaque, o grande cortejo das Grandes Festas do Divino Espírito Santo da Nova Inglaterra e foi o orador principal na homenagem prestada ao Comendador Heitor Sousa, fundador das mesmas e do Festival de Bandas de Música da Nova Inglaterra, a convite da direcção da Banda Nossa Senhora da Luz, de Fall River, a que aderiram todas as filarmónicas e inúmeras instituições da Costa Leste dos EUA, bem como na homenagem prestada ao Comendador Raul de Medeiros Benevides, igualmente em Fall River, cujas insígnias recebeu das mãos do Ministro da República para os Açores, Professor Dr. Mário Pinto.
É casado com a Dra. Maria da Conceição de Medeiros do Nascimento Cabral, licenciada em História e Filosofia e Professora de Ética e Deontologia na Universidade dos Açores, e é Pai dos Advogados Dr. Pedro Miguel de Medeiros do Nascimento Cabral e Dr. Ricardo Jorge de Medeiros do Nascimento Cabral; de Paulo Roberto de Medeiros do Nascimento Cabral, a frequentar a Universidade Clássica de Lisboa na área de Psicologia Clínica, e de Tiago Manuel de Medeiros do Nascimento Cabral, estudante do 3º. Ciclo.
Após uma grave crise de saúde, interrompeu, a conselho médico, praticamente todas as suas actividades, limitando-se a manter colaboração escrita e falada em órgãos de Informação e a desempenhar os seus cargos de Deputado na Assembleia Municipal de Ponta Delgada e na Mesa da Assembleia Geral da Santa Casa da Misericórdia da mesma cidade e integra ainda à Comissão de Toponímia da Câmara Municipal de Ponta Delgada
Tem colaborado nas reportagens das Grandes Festas do Divino Espírito Santo da Nova Inglaterra para o Canal 20 (The Portuguese Chanel), com sede em New Bedford e mantém colaboração no programa mensal sobre "Nossa Gente e Costumes", emitido pela SCAT - Somerville Community Access Television, da Nova Inglaterra.
A Minha Vida no Diário dos Açores
Destaque
Manuel Jorge Raposo
04/02/2007 08:02:8

Ao comemorar 137 anos de publicação, a actual direcção do Diário dos Açores quis que eu, o mais velho colaborador vivo, recordasse alguns aspectos da minha vida ao serviço do jornal, para onde entrei com 17 anos de idade, após ter concluído no ano escolar anterior o curso de comércio na Escola Técnica de Ponta Delgada, e ainda hoje, aos 75, presto a minha modesta colaboração.
A minha entrada ao serviço do Diário dos Açores ocorreu no dia 26 de Janeiro de 1948, por indicação de João Silva Júnior, velho colaborador do jornal, então director do Bureau de Turismo Terra Nostra, onde eu era habitual comprador de revistas, como as "Seleccções do Reader´s Digest" e a brasileira "Veja".
No curso comercial da Escola Técnica "Gonçalo Velho Cabral", além das disciplinas de Contabilidade e Noções Gerais do Comércio havia as cadeiras de Dactilografia e Estnografia, estas dadas pelo professor José de Viveiros Maiato, já falecido, e que fora proprietário da Tipografia Insular, na Rua Nunes da Silva, o qual tinha criado um Núcleo de Estnografia, de que faziam parte, entre outros, João Silva Júnior, Luciano Mota Vieira e Victor Pedroso. Eu vencera na altura vários concursos estenográficos que o Núcleo promovera de 80, 90 e 100 palavras por minuto, mas o de 120 fora ganho pelo meu colega Manuel da Silva Cabido.
Como Alcindo Coutinho, então Chefe de Redacção do Diário dos Açores, havia deixado o jornal para exercer as funções de piloto da Capitania do Porto, nua das minhas visitas ao "Bureau" J. Silva Júnior indicou-me que os drs. Carlos e Manuel da Silva Carreiro procuravam um empregado e, como eu andava à procura de trabalho, disse-me que fosse ao jornal falar com eles. Assim sucedeu e fui admitido.
Comecei pelos serviços comerciais e de escritório, abrindo a papelaria com o vasto material que os antigos proprietários e directores do Diário dos Açores já haviam adquirido.
Ao mesmo tempo ia frequentando a Redacção, acompanhando a revisão de provas e iniciando a escrita de pequenas notícias do dia-a-dia. Em breve passei a fazer reportagens de acontecimentos locais e mais tarde grandes reportagens de visitas ministeriais, em que percorri toda a ilha diversas vezes, a primeira das quais com o Secretário de Estado das Obras Públicas, o engenheiro Frederico Ulrich.
O trabalho era agradável e amistoso. Familiarizei-me com todos, directores e tipógrafos - a composição era ainda com tipo manual. Na secção de obras havia uma equipa de bons artistas e a produção dos seus trabalhos era muito valiosa para o suporte das despesas do jornal. Contava o velho e saudoso chefe da oficina - situada então na Rua Dr. Montalverne de Sequeira - , o senhor Ernesto da Costa, que tinha ouvido o tiro com que Antero de Quental se suicidara no Campo de S. Francisco, e fora um dos primeiros a aproximar-se do seu corpo inerte no banco onde o poeta se sentara, tal era o sossego que havia na cidade naquele tempo, sem os barulhos dos carros de hoje em dia.
Os meus conhecimentos de estenografia serviram muito no meu trabalho de jornalista, quer em reportagens, quer na captação do noticiário da Rádio Nacional, que preenchia as "Últimas Notícias" de cada dia. Cheguei a tirar discursos quase completos de Salazar, então Chefe do Governo. Esse trabalho passou depois a ser cedido pela Radiodifusão local, e eu fui esquecendo a estenografia e os seus traços, cujo manual emprestei, não sendo devolvido, e nunca mais pratiquei…
Nasceu a era dos gravadores! Uma filha do sr. Carlos Almeida Pavão, nosso velho amigo e companheiro de trabalho (era colaborador e angariador de publicidade), casara na ilha Terceira, no início do seu trabalho nos CTT, e o pai pediu-lhe que o marido comprasse um gravador na Base das Lajes para o Diário dos Açores. Assim fez o sr. Adolfo Matos, e quando o casal veio para Ponta Delgada passou a colaborar connosco na administração do jornal, trazendo-nos igualmente um manual de peças do gravador americano "Webcor" e a direcção do técnico para reparações nos EUA.
Fiz várias viagens ao Continente, aos Estados Unidos e Canadá em representação do jornal por convites feitos aos seus directores de então.
Numa dessas viagens a Lisboa, a convite do delegado da TWA nesta cidade, cujo nome não me recordo agora, e que tinha como secretária a D. Maria do Carmo Franco, vulgarmente tratada por "mica", fui visitar no "Diário de Notícias" o famoso jornalista e escritor nosso conterrâneo e nosso colaborador António Valdemar, que nos mostrou as oficinas e a grande máquina impressora rotativa. Conversámos até de madrugada. Igualmente visitámos a Livraria Bertrand, no Chiado, a pedido dos nossos directores, para indagarmos da melhor opção na compra de máquinas para o jornal: máquina de fundir tipo solto ou Linotype.
A sua opção era a composição em linha fundida e perante isto fomos à delegação de Lisboa da firma portuense Manuel Reis Morais & Irmão, nossa principal fornecedora de material gráfico, que nos aprazou uma visita dos seus técnicos a várias tipografias da capital, entre as quais a da Casa Pia. Como eu era ainda jovem e bem parecido, pela viagem lá me foram prevenindo para não darmos muita conversa com os rapazes aprendizes… A triste fama da Casa Pia já vinha de longe…
Noutra viagem ao continente, a convite da TAP, para comemorar as ligações directas Lisboa-Ponta Delgada, ficámos alojados no Hotel Estoril e assistimos a um espectáculo musical no Casino Estoril, onde fomos obsequiados com um jantar oferecido pelo presidente da companhia aérea nacional, então o embaixador Xara Brasil. Um dos pratos da refeição era peixe assado e os convivas foram acompanhados das esposas. Na madrugada seguinte, ao nos levantarmos para o pequeno-almoço, não vimos ninguém dos convidados da RAP e viemos a saber que tinha havido durante a oite grande alvoroço no hotel com várias pessoas indispostas e a vomitar, tendo algumas rcebido tratamento médico.
Nesse passeio, para que foram convidados, além de jornalistas e agentes de viagens de todas as ilhas, participaram todos os presidentes das Câmaras de S. Miguel e da Junta Geral, bem como o próprio Governador Civil de então, o Coronel Basílio Seguro, acompanhados das esposas, tendo a TAP proporcionado a todos os convidados uma deslocação em comboio especial - uma locomotiva com duas carruagens - à terra natal do coronel Basílio Seguro, a cidade da Guarda, onde fomos recebidos com grandes manifestações de apreço pelas autoridades locais e populares por tão ilustre militar filho da terra, a quem ofereceram e aos acompanhantes uma singular refeição em que predominou a bela fruta da região, cujos verdejantes prédios em profundos vales visitámos, bem como a Sé Catedral, de cuja torre se avistava terras de Espanha. No regresso a Lisboa, feito em autocarro, passámos por Viseu, onde pernoitámos e visitámos o Museu Grão Vasco, bem como por Coimbra.
Não quero deixar de recordar outra viagem que fizemos também a convite da TAP - a mais longa e em menos dias. Saímos de Ponta Delgada num sábado, pernoitámos em Lisboa, dali partindo para Nova Iorque no dia seguinte. Ali pernoitámos no Hotel Roosevelt, na 5ª Avenida, partindo depois em aviões de carreiras internas norte-americanas com várias escalas até ao Norte da Califórnia, na cidade de Seatle, onde à beira de um grande lago, qual Sete Cidades de maior dimensão, onde está instalada a grandiosa fábrica da Boeing, produtora dos aviões então usados pela TAP. Os passageiros convidados eram jornalistas de todo o país, que seguiam acompanhados pelo presidente da companhia na altura, e que levava consigo uma filha. Esta fez anos durante a viagem e como entre os jornalistas continentais havia bons cantores e cantoras, levaram toda a viagem em cada avião a cantar o "Happy Birthday" e outras canções do folclore nacional, que contaminaram de alegria todos os passageiros americanos que entravam nos aviões.
Chegados a Seatle, visitámos a grandiosa fábrica da Boeing, que era maior que um campo de futebol, e assistimos à montagem de diversos modelos de aviões, desde os maiores, o Jumbo, ao mais pequeno, o 735. Exactamente o que o presidente da TAP ia buscar e no qual viajámos de regresso a Portugal, via Canadá. Depois de um passeio oferecido pelos dirigentes da Boeing ao Monte Rainer, a 40 milhas da Colúmbia Britânica, iniciámos a viagem de regresso levantando voo da pista de treino da fábrica, nas margens do lago, para sobrevoar o Canadá com paisagens lindas e um tempo sempre bom que proporcionava boa visibilidade aérea. Ao levantar voo, o 735 fez uma aterragem na pista para demonstrar o sistema de aterragem mecânica automático. O avião, para facilitar a longa viagem para Portugal, via Açores, não levava as cadeiras, mas apenas mantas e cobertores para os passageiros se acomodarem a lastro e um frigorífico cheio de bebidas e gelados para os mesmos passarem a longa noite reconfortados.
Eram duas equipas de pilotos que conduziram o aparelho, uma dos comandos do avião e outra a analisar computadores e a controlar a orientação. Ninguém dormiu naquela noite, desde que saímos do Aeroporto do Quebec até chegarmos ao de Ponta Delgada.
Esta diversão de viagens já vai longa, mas não queremos deixar de lembrar uma proporcionada pela SATA a Inglaterra, à fábrica dos erus aviões "AVRO", na cidade de Manchester. Acompanhou-nos o sr. Comandante Afonso, chefe da equipa de pilotos da companhia açoriana, e o sr. Cabral, das relações públicas da empresa. Depois de uma visita à fábrica, os técnicos e dirigentes proporcionaram um passeio aéreo entre a Inglaterra e a Irlanda com demonstrações de dois aviões, um Avro e outro de maiores dimensões.
Findo este interregno, voltemos à finalidade desta crónica, que é a história da minha vida ao serviço do Diário dos Açores, o quotidiano mais antigo dos Açores, embora seja o "Açoriano Oriental" o jornal mais velho de Portugal, mas iniciou-se como semanário e assim se manteve durante muitos anos, até que a empresa liderada por Gustavo Moura, se abalançou à sua aquisição depois de ter comprado o "Açores", de Cícero de Medeiros.
Gustavo Moura iniciou as lides jornalísticas no Diário dos Açores, quando eu já pontificava na Redacção, e passou a ter a seu cargo, graciosa e sabiamente, a página desportiva, integrando-se rapidamente na família que dirigia o jornal. Como nós, que admirávamos muito a rapidez, o discernimento e a capacidade de escrever com conhecimento de causa, foi também acolhido com reconhecida admiração pela Direcção e restantes membros da Redacção, que era integrada na altura, para além de mim, pelos saudosos revisores Eduarda Pereira e Duarte Xavier Jácome de Medeiros, ajudados muitas vezes pela linotipista Isilda de Medeiros. Carlos Tomé, hoje jornalista da RTP-A, trabalhou connosco, e José Costa Melo, também funcionário administrativo da RTP-A, foi hábil linotipista do Diário dos Açores. Igualmente Pedro Moreira iniciou a sua actividade jornalística no Diário e passou para a televisão. Da rádio, tivemos também alguns colaboradores amigos, que frequentavam a redacção muitos dias, mais para se integrarem na sua feitura. Fernando Luís Couto Alves, depois de desistir do curso do Seminário de Angra, foi nosso companheiro de trabalho, passando mais tarde para a função pública.
Quanto aos empregados, recordo com saudade os falecidos João de Jesus, compositor e paginador, Gild e Oliveira, compositor e impressor, Daniel Pestana, impressor, Arsénio Sousa Borges, famoso impressor de livros, Maria Tavares, versátil artista: compunha mapas, fazia blocos e encadernava livros.
No aspecto dos colaboradores, lembro com saudade e gratidão a amizade que me dispensaram os falecidos Padre Dinis, dr. Rui Galvão de Carvalho, dr Francisco Carreiro da Costa, dr José de Almeida Pavão jr., dr João Bernardo de Oliveira Rodrigues, o Almirante Botelho de Sousa e José Rebelo de Bettencourt, já falecidos.
Junto a estes todos os correspondentes nas vilas e freguesias desta ilha, recordando em especial José Pereira da Silva, com as suas páginas da vila-cidade da Ribeira Grande, Vico Pires Coelho, de Vila Franca do Campo, Manuel Carreiro da Costa, da Lagoa, Manuel Augusto Vieira, de Água de Pau, João Alves dos Reis, nos Mosteiros. Na Povoação tivemos, que me lembre, dois, mas já não recordo os seus nomes.
Lembro agora as fases mais tristes que passei no jornal: as mortes dos seus directores drs. Manuel da Silva Carreiro e Carlos Resende da Silva Carreiro.
O estado de saúde do dr. Manuel foi piorando progressivamente desde a morte do seu filho Manuel Amaral Carreiro, em combate na Guiné, nas vésperas do jornal completar o centenário, vindo a falecer a 7 de Setembro de 1974. O dr. Carlos durou apenas 3 anos mais, falecendo a 28 de Setembro de 1977.
Com estes tristes desenlaces - os drs. Carlos e Manuel Carreiro tinham sido padrinhos do nosso casamento, com as suas esposas, o primeiro de mim próprio e o segundo de minha esposa, professora Maria de Lurdes Arruda, que tinha sido explicadora dos seus filhos, tendo a sua falta na direcção do jornal aumentado as minhas responsabilidades, pois tinha ficado sozinho na Redacção com a ajuda da esperta revisora Eduarda Pereira e de Alberto Carreiro e Clara Gomes, a quem já tinha confiado os trabalhos de contabilidade. Como nunca tinha tido o meu nome no cabeçalho, nem como Chefe de Redacção, lembrei-me de por como director interino o nome do pintor Carlos do Amaral Carreiro, filho do dr. Manuel, e professor da Escola de Belas Artes do Porto, onde estudara. Mas eles pelas suas actividades absorventes, e já ser chefe de família, declinou essa responsabilidade na irmã, D. Isabel A. Carreiro Machado Costa, casada com o florentino Roberto Machado Costa. Mas a D. Isabel também se aborreceu depressa e como o jornal estava a causar prejuízos avultados e a sua tia e madrinha, D. Elvira Carreiro, viúva do dr. Carlos, ficara sem rendimentos, já tinha pedido ao dr. Mota Amaral, Presidente do Governo Regional, para comprar a sua quota na Empresa Diário dos Açores, decisão que levou muito tempo a resolver, começando por convidar um conceituado advogado com escritório na Rua do Brum, cujo nome não me recordo, a analisar a escrita do jornal. Esse advogado levou-nos os livros selados e nunca mais nos devolveu, o que nos agravou a nossa situação financeira com pesadas multas das Finanças. Esse advogado acabaria por falecer e foi então que Alberto Carreiro comprou livros novos, registou-os nas Finanças e voltaram as coisas à normalidade.
Mota Amaral acabou por escolher um grupo de correligionários do partido para comprar a quota do jornal, de que fazia parte Américo Viveiros, Raul Gomes dos Santos, Roberto Moniz e o dr. Almeida e Sousa. Nesse interregno, tínhamos convidado o velho colaborador sr. João Silva Jr (lembram-se os leitores da sua habitual crónica "A Minha Nota"?), que viria a falecer no seu posto de trabalho, talvez intoxicado com o fumo dos três maços de cigarros que cheguei a consumir todos os dias…
Sucedeu-lhe na Direcção o prof. Eduardo Medeiros, até o jornal acabar de ser totalmente vendido à Gráfica Açoriana.
Ao iniciar hoje o seu 138º ano de publicação, erguemos a nossa prece pelos fundadores e continuadores da direcção do jornal Diário dos Açores e por todos os colaboradores e trabalhadores que ergueram este baluarte histórico da informação pública, fazendo ardentes votos pela sua continuidade a bem da terra e das suas gentes.

http://209.85.229.132/search?q=cache:S40UPUGoG38J:da.online.pt/print.php%3Fid%3D103737+%22Jo%C3%A3o+Silva+J%C3%BAnior,+Luciano+Mota+Vieira+e+Victor+Pedroso%22&cd=1&hl=pt-PT&ct=clnk&gl=pt&client=firefox-a