JORGE MANUEL DO NASCIMENTO MEDEIROS CABRAL
Regional
Diario dos Açores
03/06/2002 07:06:7
Nasceu em Ponta Delgada, na casa n.º 9 da Rua da Fonte, em 11 de Março de 1948.
Após a instrução primária nas Escolas de Ribeira Funda e Mãe de Deus, fez uma curta passagem pelos Seminários do Senhor Santo Cristo e Episcopal de Angra do Heroísmo, de onde ingressou no 2º Ciclo do antigo Liceu Nacional de Ponta Delgada, terminando o 3º Ciclo (7º ano dos antigos liceus; exc. Latim), da Alínea D - Histórico-Filosóficas.
Durante os seus estudos liceais, foi co-autor, produtor e apresentador de "Voz Académica", o primeiro programa de rádio estudantil no então Emissor Regional dos Açores da Emissora Nacional de Radiodifusão; desempenhou o papel de primeiras figuras em peças teatrais ("O Entremez da Muda Casada", "O Siciliano ou Pintar por Amor" e "As Profecias do Bandarra"), para além de ter sido Presidente de uma Comissão de Finalistas.
Venceu os primeiros prémios da categoria "Conto" nos Jogos Florais do Liceu Nacional de Ponta Delgada de 1968, com a produção "Feliz Natal, Querida", e de 1969, com "O Negro Rafeiro".
No mesmo ano, ingressou no serviço militar obrigatório, sendo, em Julho de 1970, mobilizado, em plena guerra colonial, para a antiga Província ultramarina da Guiné-Bissau, onde foi colocado na Repartição de Informações do Comando-Chefe das Forças Armadas, transitando, mais tarde, para a Repartição de Operações, com funções de Adjunto.
Na Emissora Oficial da então Guiné Portuguesa, co-produziu os programas "Açores no passado e no presente" e "Dimensão 3".
Após a Comissão de Serviço na antiga colónia portuguesa, foi louvado pelo Chefe do Estado Maior com expressivas palavras de apreço, tendo-lhe sido atribuída a Medalha Comemorativa das Campanhas da Guiné.
Em 1972 fez parte dos quadros da Agência de Viagens Ornelas, período em que foi co-autor e apresentador de programas de rádio de grande impacto, entre os quais se incluem "Contágio", "Açores 80" e "Improviso 75".
Ingressou oficialmente no Emissor Regional dos Açores da Emissora Nacional de Radiodifusão em 1974, onde exerceu, sucessivamente, funções de responsável pelos Serviços de Informação, Coordenador de Canal, Chefe de Serviços de Programas e Supervisor.
Paralelamente, fez um exaustivo levantamento de Filarmónicas e Grupos Folclóricos em quase todas as ilhas dos Açores, produzindo programas que visavam estimular a manutenção, aperfeiçoamento e divulgação daqueles agrupamentos.
Organizou e concretizou os "Primeiros Jogos Florais da RDP/Açores", tendo sido louvado por isso pelo então Conselho de Administração da RDP-E.P., que, de igual modo, reconheceu o seu trabalho na cobertura do trágico sismo de 1 de Janeiro de 1980, permanecendo cerca de 48 horas consecutivas aos microfones da RDP/Açores.
Dedicou-se a tarefas de âmbito social, entre as quais co-fundador da CODEVA (Comissão de Defesa dos Valores da Sociedade Açoriana); Vice-Presidente e Presidente da Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Ponta Delgada; co-fundador do Lions Clube de S. Miguel como 2º Vice-Presidente; co-fundador do Boletim "O Sinal"; foi Membro da Comissão Diocesana para a Comunicação Social e tem cumprido diversos mandatos na Assembleia Municipal de Ponta Delgada, onde intervém frequentemente na defesa dos interesses das populações do Concelho, tendo sido eleito, por unanimidade, líder e porta-voz do Grupo Social-Democrata naquele órgão autárquico.
Juntamente com o saudoso Prof. Luciano de Resende Mota Vieira, organizou as comemorações do 150º Aniversário da partida do "Exército Libertador", que decorreram no Relvão, em Ponta Delgada, local onde os "Bravos do Mindelo" assistiram a uma Missa Campal, antes de iniciarem a sua histórica luta contra os ideais da Monarquia absolutista.
Em 1989 foi eleito Vereador da Câmara Municipal de Nordeste.
De 1 de Março de 1981 a 13 de Julho de 1997, dirigiu o Jornal diário "Correio dos Açores", onde subscreveu vigorosos editoriais em defesa das questões açorianas.
Foi eleito Deputado à Assembleia Legislativa dos Açores pelo Círculo Eleitoral de S. Miguel em 1984 e, durante 5 anos consecutivos, desempenhou funções como 1º Secretário da Mesa da Assembleia Legislativa dos Açores. Para além disso, foi Secretário da Comissão Parlamentar de Organização e Legislação; Relator da Comissão Parlamentar para os Assuntos Políticos e Administrativos; Presidente da Comissão Parlamentar de Política Geral e Membro da Comissão Parlamentar de Política Geral e Assuntos Internacionais.
Como Deputado em 3 legislaturas (12 anos), entre outras vertentes, colaborou assiduamente com a Câmara Municipal de Nordeste e foi autor de uma Proposta de Resolução, aprovada em plenário, que visou introduzir nos ensinos secundário e universitário, o estudo das novas teses da expansão dos descobrimentos portugueses para Ocidente.
Foi um dos Fundadores do Partido Social Democrata nos Açores, pertencendo à respectiva Comissão Instaladora com o pelouro da Comunicação Social.
Tem participado em numerosos Congressos, Seminários e Colóquios nos Açores, em Portugal continental, nos Estados Unidos da América, no Canadá, no Japão e em França, versando temática diversa e mantém estreitas ligações com as comunidades emigrantes nos Estados Unidos da América e Canadá, para as quais tem feito, ao longo de muitos anos, as reportagens radiofónicas das grandes Festas do Senhor Santo Cristo dos Milagres, em colaboração com Raúl Benevides, Director dos programas "Açores-Madeira" e "Despertar", emitidos na Nova Inglaterra, para além de várias participações nos Ciclos de Cultura Açoriana realizados em Toronto, sendo Sócio Honorário da Casa dos Açores daquela cidade. Na 16ª. Edição daqueles ciclos, apresentou uma comunicação intitulada "As Festas do Senhor Santo Cristo - As recomendações de Castilho", que foi vibrantemente aplaudida de pé pela numerosa assistência.
Pertenceu ao pequeno grupo de cidadãos que deu início à Festa do Emigrante, que, anualmente, congrega centenas e centenas de concidadãos residentes na diáspora, tendo sido por várias vezes chamado a apresentá-la.
Foi co-fundador da Associação de Amizade Açores - Hawai.
Tem vasta e multifacetada colaboração dispersa por jornais e revistas e tem sido moderador de inúmeros debates sobre temática variada (um dos quais a convite do Fórum Açoriano), e orador oficial em muitas manifestações de carácter político, social e cultural, entre as quais se destaca a apresentação de livros de consagrados escritores, nomeadamente Onésimo Almeida, Cristóvão de Aguiar e Manuel Ferreira (o nome do ilustre escritor dado a uma rua de Ponta Delgada foi uma proposta sua), entre muitos outros, e foi convidado a discursar no descerramento, em Ponta Delgada, da placa comemorativa dos 25 anos do "6 de Junho", cujo texto é da sua autoria, destacando-se ainda os seus discursos nas comemorações dos "25 Anos da Revolução do 25 de Abril", no Concelho do Nordeste; na inauguração da Rotunda do Emigrante na Vila do Nordeste, bem como nas comemorações dos 75 anos da Freguesia da Lomba da Fazenda, terra da naturalidade dos seus antepassados e na homenagem a D. Maria do Carmo Monte, fundadora e directora da Casa de Trabalho de Nordeste.
Um dos fundadores e primeiro Presidente da Cooperativa de Ensino "A Colmeia", tem o seu nome ligado ao Monumento ao Emigrante e ao Memorial dos Fundadores do Concelho de Ponta Delgada e, na Imprensa, tem defendido muitas causas de interesse colectivo, nomeadamente o Porto de Pesca Industrial de S. Miguel.
Para além da Medalha Comemorativa das Campanhas da Guiné, possui condecorações do Lions Internacional e do Past-Governador do Distrito Lionístico 115, Doutor Maia Gomes.
Foi nomeado "Cidadão Honorário do Concelho de Nordeste", por ocasião das comemorações do respectivo 475º Aniversário, por "relevante dedicação e elevado espírito de serviço" àquele Concelho.
Possui ainda inúmeras placas e "Citações de Apreço" das mais diversas origens, nomeadamente das Cidades norte-americanas de Fall River, New Bedford e Providence e dos Senados Estaduais de Massachusetts e Rhode Island, bem como do Governo da Província de Ontário, Canadá, para além de ter sido homenageado por mais de uma dezena de Filarmónicas da Nova Inglaterra, Estados Unidos da América, no decorrer de um dos Festivais de Filarmónicas ali realizados, que apresentou. Foi ainda o "Honnor Guest" (convidado de honra), do Império de São Pedro, em louvor ao Divino Espírito Santo, em New Bedford, e tem sido convidado a incorporar, em lugar de destaque, o grande cortejo das Grandes Festas do Divino Espírito Santo da Nova Inglaterra e foi o orador principal na homenagem prestada ao Comendador Heitor Sousa, fundador das mesmas e do Festival de Bandas de Música da Nova Inglaterra, a convite da direcção da Banda Nossa Senhora da Luz, de Fall River, a que aderiram todas as filarmónicas e inúmeras instituições da Costa Leste dos EUA, bem como na homenagem prestada ao Comendador Raul de Medeiros Benevides, igualmente em Fall River, cujas insígnias recebeu das mãos do Ministro da República para os Açores, Professor Dr. Mário Pinto.
É casado com a Dra. Maria da Conceição de Medeiros do Nascimento Cabral, licenciada em História e Filosofia e Professora de Ética e Deontologia na Universidade dos Açores, e é Pai dos Advogados Dr. Pedro Miguel de Medeiros do Nascimento Cabral e Dr. Ricardo Jorge de Medeiros do Nascimento Cabral; de Paulo Roberto de Medeiros do Nascimento Cabral, a frequentar a Universidade Clássica de Lisboa na área de Psicologia Clínica, e de Tiago Manuel de Medeiros do Nascimento Cabral, estudante do 3º. Ciclo.
Após uma grave crise de saúde, interrompeu, a conselho médico, praticamente todas as suas actividades, limitando-se a manter colaboração escrita e falada em órgãos de Informação e a desempenhar os seus cargos de Deputado na Assembleia Municipal de Ponta Delgada e na Mesa da Assembleia Geral da Santa Casa da Misericórdia da mesma cidade e integra ainda à Comissão de Toponímia da Câmara Municipal de Ponta Delgada
Tem colaborado nas reportagens das Grandes Festas do Divino Espírito Santo da Nova Inglaterra para o Canal 20 (The Portuguese Chanel), com sede em New Bedford e mantém colaboração no programa mensal sobre "Nossa Gente e Costumes", emitido pela SCAT - Somerville Community Access Television, da Nova Inglaterra.
terça-feira, junho 2
A Minha Vida no Diário dos Açores
Destaque
Manuel Jorge Raposo
04/02/2007 08:02:8
Ao comemorar 137 anos de publicação, a actual direcção do Diário dos Açores quis que eu, o mais velho colaborador vivo, recordasse alguns aspectos da minha vida ao serviço do jornal, para onde entrei com 17 anos de idade, após ter concluído no ano escolar anterior o curso de comércio na Escola Técnica de Ponta Delgada, e ainda hoje, aos 75, presto a minha modesta colaboração.
A minha entrada ao serviço do Diário dos Açores ocorreu no dia 26 de Janeiro de 1948, por indicação de João Silva Júnior, velho colaborador do jornal, então director do Bureau de Turismo Terra Nostra, onde eu era habitual comprador de revistas, como as "Seleccções do Reader´s Digest" e a brasileira "Veja".
No curso comercial da Escola Técnica "Gonçalo Velho Cabral", além das disciplinas de Contabilidade e Noções Gerais do Comércio havia as cadeiras de Dactilografia e Estnografia, estas dadas pelo professor José de Viveiros Maiato, já falecido, e que fora proprietário da Tipografia Insular, na Rua Nunes da Silva, o qual tinha criado um Núcleo de Estnografia, de que faziam parte, entre outros, João Silva Júnior, Luciano Mota Vieira e Victor Pedroso. Eu vencera na altura vários concursos estenográficos que o Núcleo promovera de 80, 90 e 100 palavras por minuto, mas o de 120 fora ganho pelo meu colega Manuel da Silva Cabido.
Como Alcindo Coutinho, então Chefe de Redacção do Diário dos Açores, havia deixado o jornal para exercer as funções de piloto da Capitania do Porto, nua das minhas visitas ao "Bureau" J. Silva Júnior indicou-me que os drs. Carlos e Manuel da Silva Carreiro procuravam um empregado e, como eu andava à procura de trabalho, disse-me que fosse ao jornal falar com eles. Assim sucedeu e fui admitido.
Comecei pelos serviços comerciais e de escritório, abrindo a papelaria com o vasto material que os antigos proprietários e directores do Diário dos Açores já haviam adquirido.
Ao mesmo tempo ia frequentando a Redacção, acompanhando a revisão de provas e iniciando a escrita de pequenas notícias do dia-a-dia. Em breve passei a fazer reportagens de acontecimentos locais e mais tarde grandes reportagens de visitas ministeriais, em que percorri toda a ilha diversas vezes, a primeira das quais com o Secretário de Estado das Obras Públicas, o engenheiro Frederico Ulrich.
O trabalho era agradável e amistoso. Familiarizei-me com todos, directores e tipógrafos - a composição era ainda com tipo manual. Na secção de obras havia uma equipa de bons artistas e a produção dos seus trabalhos era muito valiosa para o suporte das despesas do jornal. Contava o velho e saudoso chefe da oficina - situada então na Rua Dr. Montalverne de Sequeira - , o senhor Ernesto da Costa, que tinha ouvido o tiro com que Antero de Quental se suicidara no Campo de S. Francisco, e fora um dos primeiros a aproximar-se do seu corpo inerte no banco onde o poeta se sentara, tal era o sossego que havia na cidade naquele tempo, sem os barulhos dos carros de hoje em dia.
Os meus conhecimentos de estenografia serviram muito no meu trabalho de jornalista, quer em reportagens, quer na captação do noticiário da Rádio Nacional, que preenchia as "Últimas Notícias" de cada dia. Cheguei a tirar discursos quase completos de Salazar, então Chefe do Governo. Esse trabalho passou depois a ser cedido pela Radiodifusão local, e eu fui esquecendo a estenografia e os seus traços, cujo manual emprestei, não sendo devolvido, e nunca mais pratiquei…
Nasceu a era dos gravadores! Uma filha do sr. Carlos Almeida Pavão, nosso velho amigo e companheiro de trabalho (era colaborador e angariador de publicidade), casara na ilha Terceira, no início do seu trabalho nos CTT, e o pai pediu-lhe que o marido comprasse um gravador na Base das Lajes para o Diário dos Açores. Assim fez o sr. Adolfo Matos, e quando o casal veio para Ponta Delgada passou a colaborar connosco na administração do jornal, trazendo-nos igualmente um manual de peças do gravador americano "Webcor" e a direcção do técnico para reparações nos EUA.
Fiz várias viagens ao Continente, aos Estados Unidos e Canadá em representação do jornal por convites feitos aos seus directores de então.
Numa dessas viagens a Lisboa, a convite do delegado da TWA nesta cidade, cujo nome não me recordo agora, e que tinha como secretária a D. Maria do Carmo Franco, vulgarmente tratada por "mica", fui visitar no "Diário de Notícias" o famoso jornalista e escritor nosso conterrâneo e nosso colaborador António Valdemar, que nos mostrou as oficinas e a grande máquina impressora rotativa. Conversámos até de madrugada. Igualmente visitámos a Livraria Bertrand, no Chiado, a pedido dos nossos directores, para indagarmos da melhor opção na compra de máquinas para o jornal: máquina de fundir tipo solto ou Linotype.
A sua opção era a composição em linha fundida e perante isto fomos à delegação de Lisboa da firma portuense Manuel Reis Morais & Irmão, nossa principal fornecedora de material gráfico, que nos aprazou uma visita dos seus técnicos a várias tipografias da capital, entre as quais a da Casa Pia. Como eu era ainda jovem e bem parecido, pela viagem lá me foram prevenindo para não darmos muita conversa com os rapazes aprendizes… A triste fama da Casa Pia já vinha de longe…
Noutra viagem ao continente, a convite da TAP, para comemorar as ligações directas Lisboa-Ponta Delgada, ficámos alojados no Hotel Estoril e assistimos a um espectáculo musical no Casino Estoril, onde fomos obsequiados com um jantar oferecido pelo presidente da companhia aérea nacional, então o embaixador Xara Brasil. Um dos pratos da refeição era peixe assado e os convivas foram acompanhados das esposas. Na madrugada seguinte, ao nos levantarmos para o pequeno-almoço, não vimos ninguém dos convidados da RAP e viemos a saber que tinha havido durante a oite grande alvoroço no hotel com várias pessoas indispostas e a vomitar, tendo algumas rcebido tratamento médico.
Nesse passeio, para que foram convidados, além de jornalistas e agentes de viagens de todas as ilhas, participaram todos os presidentes das Câmaras de S. Miguel e da Junta Geral, bem como o próprio Governador Civil de então, o Coronel Basílio Seguro, acompanhados das esposas, tendo a TAP proporcionado a todos os convidados uma deslocação em comboio especial - uma locomotiva com duas carruagens - à terra natal do coronel Basílio Seguro, a cidade da Guarda, onde fomos recebidos com grandes manifestações de apreço pelas autoridades locais e populares por tão ilustre militar filho da terra, a quem ofereceram e aos acompanhantes uma singular refeição em que predominou a bela fruta da região, cujos verdejantes prédios em profundos vales visitámos, bem como a Sé Catedral, de cuja torre se avistava terras de Espanha. No regresso a Lisboa, feito em autocarro, passámos por Viseu, onde pernoitámos e visitámos o Museu Grão Vasco, bem como por Coimbra.
Não quero deixar de recordar outra viagem que fizemos também a convite da TAP - a mais longa e em menos dias. Saímos de Ponta Delgada num sábado, pernoitámos em Lisboa, dali partindo para Nova Iorque no dia seguinte. Ali pernoitámos no Hotel Roosevelt, na 5ª Avenida, partindo depois em aviões de carreiras internas norte-americanas com várias escalas até ao Norte da Califórnia, na cidade de Seatle, onde à beira de um grande lago, qual Sete Cidades de maior dimensão, onde está instalada a grandiosa fábrica da Boeing, produtora dos aviões então usados pela TAP. Os passageiros convidados eram jornalistas de todo o país, que seguiam acompanhados pelo presidente da companhia na altura, e que levava consigo uma filha. Esta fez anos durante a viagem e como entre os jornalistas continentais havia bons cantores e cantoras, levaram toda a viagem em cada avião a cantar o "Happy Birthday" e outras canções do folclore nacional, que contaminaram de alegria todos os passageiros americanos que entravam nos aviões.
Chegados a Seatle, visitámos a grandiosa fábrica da Boeing, que era maior que um campo de futebol, e assistimos à montagem de diversos modelos de aviões, desde os maiores, o Jumbo, ao mais pequeno, o 735. Exactamente o que o presidente da TAP ia buscar e no qual viajámos de regresso a Portugal, via Canadá. Depois de um passeio oferecido pelos dirigentes da Boeing ao Monte Rainer, a 40 milhas da Colúmbia Britânica, iniciámos a viagem de regresso levantando voo da pista de treino da fábrica, nas margens do lago, para sobrevoar o Canadá com paisagens lindas e um tempo sempre bom que proporcionava boa visibilidade aérea. Ao levantar voo, o 735 fez uma aterragem na pista para demonstrar o sistema de aterragem mecânica automático. O avião, para facilitar a longa viagem para Portugal, via Açores, não levava as cadeiras, mas apenas mantas e cobertores para os passageiros se acomodarem a lastro e um frigorífico cheio de bebidas e gelados para os mesmos passarem a longa noite reconfortados.
Eram duas equipas de pilotos que conduziram o aparelho, uma dos comandos do avião e outra a analisar computadores e a controlar a orientação. Ninguém dormiu naquela noite, desde que saímos do Aeroporto do Quebec até chegarmos ao de Ponta Delgada.
Esta diversão de viagens já vai longa, mas não queremos deixar de lembrar uma proporcionada pela SATA a Inglaterra, à fábrica dos erus aviões "AVRO", na cidade de Manchester. Acompanhou-nos o sr. Comandante Afonso, chefe da equipa de pilotos da companhia açoriana, e o sr. Cabral, das relações públicas da empresa. Depois de uma visita à fábrica, os técnicos e dirigentes proporcionaram um passeio aéreo entre a Inglaterra e a Irlanda com demonstrações de dois aviões, um Avro e outro de maiores dimensões.
Findo este interregno, voltemos à finalidade desta crónica, que é a história da minha vida ao serviço do Diário dos Açores, o quotidiano mais antigo dos Açores, embora seja o "Açoriano Oriental" o jornal mais velho de Portugal, mas iniciou-se como semanário e assim se manteve durante muitos anos, até que a empresa liderada por Gustavo Moura, se abalançou à sua aquisição depois de ter comprado o "Açores", de Cícero de Medeiros.
Gustavo Moura iniciou as lides jornalísticas no Diário dos Açores, quando eu já pontificava na Redacção, e passou a ter a seu cargo, graciosa e sabiamente, a página desportiva, integrando-se rapidamente na família que dirigia o jornal. Como nós, que admirávamos muito a rapidez, o discernimento e a capacidade de escrever com conhecimento de causa, foi também acolhido com reconhecida admiração pela Direcção e restantes membros da Redacção, que era integrada na altura, para além de mim, pelos saudosos revisores Eduarda Pereira e Duarte Xavier Jácome de Medeiros, ajudados muitas vezes pela linotipista Isilda de Medeiros. Carlos Tomé, hoje jornalista da RTP-A, trabalhou connosco, e José Costa Melo, também funcionário administrativo da RTP-A, foi hábil linotipista do Diário dos Açores. Igualmente Pedro Moreira iniciou a sua actividade jornalística no Diário e passou para a televisão. Da rádio, tivemos também alguns colaboradores amigos, que frequentavam a redacção muitos dias, mais para se integrarem na sua feitura. Fernando Luís Couto Alves, depois de desistir do curso do Seminário de Angra, foi nosso companheiro de trabalho, passando mais tarde para a função pública.
Quanto aos empregados, recordo com saudade os falecidos João de Jesus, compositor e paginador, Gild e Oliveira, compositor e impressor, Daniel Pestana, impressor, Arsénio Sousa Borges, famoso impressor de livros, Maria Tavares, versátil artista: compunha mapas, fazia blocos e encadernava livros.
No aspecto dos colaboradores, lembro com saudade e gratidão a amizade que me dispensaram os falecidos Padre Dinis, dr. Rui Galvão de Carvalho, dr Francisco Carreiro da Costa, dr José de Almeida Pavão jr., dr João Bernardo de Oliveira Rodrigues, o Almirante Botelho de Sousa e José Rebelo de Bettencourt, já falecidos.
Junto a estes todos os correspondentes nas vilas e freguesias desta ilha, recordando em especial José Pereira da Silva, com as suas páginas da vila-cidade da Ribeira Grande, Vico Pires Coelho, de Vila Franca do Campo, Manuel Carreiro da Costa, da Lagoa, Manuel Augusto Vieira, de Água de Pau, João Alves dos Reis, nos Mosteiros. Na Povoação tivemos, que me lembre, dois, mas já não recordo os seus nomes.
Lembro agora as fases mais tristes que passei no jornal: as mortes dos seus directores drs. Manuel da Silva Carreiro e Carlos Resende da Silva Carreiro.
O estado de saúde do dr. Manuel foi piorando progressivamente desde a morte do seu filho Manuel Amaral Carreiro, em combate na Guiné, nas vésperas do jornal completar o centenário, vindo a falecer a 7 de Setembro de 1974. O dr. Carlos durou apenas 3 anos mais, falecendo a 28 de Setembro de 1977.
Com estes tristes desenlaces - os drs. Carlos e Manuel Carreiro tinham sido padrinhos do nosso casamento, com as suas esposas, o primeiro de mim próprio e o segundo de minha esposa, professora Maria de Lurdes Arruda, que tinha sido explicadora dos seus filhos, tendo a sua falta na direcção do jornal aumentado as minhas responsabilidades, pois tinha ficado sozinho na Redacção com a ajuda da esperta revisora Eduarda Pereira e de Alberto Carreiro e Clara Gomes, a quem já tinha confiado os trabalhos de contabilidade. Como nunca tinha tido o meu nome no cabeçalho, nem como Chefe de Redacção, lembrei-me de por como director interino o nome do pintor Carlos do Amaral Carreiro, filho do dr. Manuel, e professor da Escola de Belas Artes do Porto, onde estudara. Mas eles pelas suas actividades absorventes, e já ser chefe de família, declinou essa responsabilidade na irmã, D. Isabel A. Carreiro Machado Costa, casada com o florentino Roberto Machado Costa. Mas a D. Isabel também se aborreceu depressa e como o jornal estava a causar prejuízos avultados e a sua tia e madrinha, D. Elvira Carreiro, viúva do dr. Carlos, ficara sem rendimentos, já tinha pedido ao dr. Mota Amaral, Presidente do Governo Regional, para comprar a sua quota na Empresa Diário dos Açores, decisão que levou muito tempo a resolver, começando por convidar um conceituado advogado com escritório na Rua do Brum, cujo nome não me recordo, a analisar a escrita do jornal. Esse advogado levou-nos os livros selados e nunca mais nos devolveu, o que nos agravou a nossa situação financeira com pesadas multas das Finanças. Esse advogado acabaria por falecer e foi então que Alberto Carreiro comprou livros novos, registou-os nas Finanças e voltaram as coisas à normalidade.
Mota Amaral acabou por escolher um grupo de correligionários do partido para comprar a quota do jornal, de que fazia parte Américo Viveiros, Raul Gomes dos Santos, Roberto Moniz e o dr. Almeida e Sousa. Nesse interregno, tínhamos convidado o velho colaborador sr. João Silva Jr (lembram-se os leitores da sua habitual crónica "A Minha Nota"?), que viria a falecer no seu posto de trabalho, talvez intoxicado com o fumo dos três maços de cigarros que cheguei a consumir todos os dias…
Sucedeu-lhe na Direcção o prof. Eduardo Medeiros, até o jornal acabar de ser totalmente vendido à Gráfica Açoriana.
Ao iniciar hoje o seu 138º ano de publicação, erguemos a nossa prece pelos fundadores e continuadores da direcção do jornal Diário dos Açores e por todos os colaboradores e trabalhadores que ergueram este baluarte histórico da informação pública, fazendo ardentes votos pela sua continuidade a bem da terra e das suas gentes.
http://209.85.229.132/search?q=cache:S40UPUGoG38J:da.online.pt/print.php%3Fid%3D103737+%22Jo%C3%A3o+Silva+J%C3%BAnior,+Luciano+Mota+Vieira+e+Victor+Pedroso%22&cd=1&hl=pt-PT&ct=clnk&gl=pt&client=firefox-a
Destaque
Manuel Jorge Raposo
04/02/2007 08:02:8
Ao comemorar 137 anos de publicação, a actual direcção do Diário dos Açores quis que eu, o mais velho colaborador vivo, recordasse alguns aspectos da minha vida ao serviço do jornal, para onde entrei com 17 anos de idade, após ter concluído no ano escolar anterior o curso de comércio na Escola Técnica de Ponta Delgada, e ainda hoje, aos 75, presto a minha modesta colaboração.
A minha entrada ao serviço do Diário dos Açores ocorreu no dia 26 de Janeiro de 1948, por indicação de João Silva Júnior, velho colaborador do jornal, então director do Bureau de Turismo Terra Nostra, onde eu era habitual comprador de revistas, como as "Seleccções do Reader´s Digest" e a brasileira "Veja".
No curso comercial da Escola Técnica "Gonçalo Velho Cabral", além das disciplinas de Contabilidade e Noções Gerais do Comércio havia as cadeiras de Dactilografia e Estnografia, estas dadas pelo professor José de Viveiros Maiato, já falecido, e que fora proprietário da Tipografia Insular, na Rua Nunes da Silva, o qual tinha criado um Núcleo de Estnografia, de que faziam parte, entre outros, João Silva Júnior, Luciano Mota Vieira e Victor Pedroso. Eu vencera na altura vários concursos estenográficos que o Núcleo promovera de 80, 90 e 100 palavras por minuto, mas o de 120 fora ganho pelo meu colega Manuel da Silva Cabido.
Como Alcindo Coutinho, então Chefe de Redacção do Diário dos Açores, havia deixado o jornal para exercer as funções de piloto da Capitania do Porto, nua das minhas visitas ao "Bureau" J. Silva Júnior indicou-me que os drs. Carlos e Manuel da Silva Carreiro procuravam um empregado e, como eu andava à procura de trabalho, disse-me que fosse ao jornal falar com eles. Assim sucedeu e fui admitido.
Comecei pelos serviços comerciais e de escritório, abrindo a papelaria com o vasto material que os antigos proprietários e directores do Diário dos Açores já haviam adquirido.
Ao mesmo tempo ia frequentando a Redacção, acompanhando a revisão de provas e iniciando a escrita de pequenas notícias do dia-a-dia. Em breve passei a fazer reportagens de acontecimentos locais e mais tarde grandes reportagens de visitas ministeriais, em que percorri toda a ilha diversas vezes, a primeira das quais com o Secretário de Estado das Obras Públicas, o engenheiro Frederico Ulrich.
O trabalho era agradável e amistoso. Familiarizei-me com todos, directores e tipógrafos - a composição era ainda com tipo manual. Na secção de obras havia uma equipa de bons artistas e a produção dos seus trabalhos era muito valiosa para o suporte das despesas do jornal. Contava o velho e saudoso chefe da oficina - situada então na Rua Dr. Montalverne de Sequeira - , o senhor Ernesto da Costa, que tinha ouvido o tiro com que Antero de Quental se suicidara no Campo de S. Francisco, e fora um dos primeiros a aproximar-se do seu corpo inerte no banco onde o poeta se sentara, tal era o sossego que havia na cidade naquele tempo, sem os barulhos dos carros de hoje em dia.
Os meus conhecimentos de estenografia serviram muito no meu trabalho de jornalista, quer em reportagens, quer na captação do noticiário da Rádio Nacional, que preenchia as "Últimas Notícias" de cada dia. Cheguei a tirar discursos quase completos de Salazar, então Chefe do Governo. Esse trabalho passou depois a ser cedido pela Radiodifusão local, e eu fui esquecendo a estenografia e os seus traços, cujo manual emprestei, não sendo devolvido, e nunca mais pratiquei…
Nasceu a era dos gravadores! Uma filha do sr. Carlos Almeida Pavão, nosso velho amigo e companheiro de trabalho (era colaborador e angariador de publicidade), casara na ilha Terceira, no início do seu trabalho nos CTT, e o pai pediu-lhe que o marido comprasse um gravador na Base das Lajes para o Diário dos Açores. Assim fez o sr. Adolfo Matos, e quando o casal veio para Ponta Delgada passou a colaborar connosco na administração do jornal, trazendo-nos igualmente um manual de peças do gravador americano "Webcor" e a direcção do técnico para reparações nos EUA.
Fiz várias viagens ao Continente, aos Estados Unidos e Canadá em representação do jornal por convites feitos aos seus directores de então.
Numa dessas viagens a Lisboa, a convite do delegado da TWA nesta cidade, cujo nome não me recordo agora, e que tinha como secretária a D. Maria do Carmo Franco, vulgarmente tratada por "mica", fui visitar no "Diário de Notícias" o famoso jornalista e escritor nosso conterrâneo e nosso colaborador António Valdemar, que nos mostrou as oficinas e a grande máquina impressora rotativa. Conversámos até de madrugada. Igualmente visitámos a Livraria Bertrand, no Chiado, a pedido dos nossos directores, para indagarmos da melhor opção na compra de máquinas para o jornal: máquina de fundir tipo solto ou Linotype.
A sua opção era a composição em linha fundida e perante isto fomos à delegação de Lisboa da firma portuense Manuel Reis Morais & Irmão, nossa principal fornecedora de material gráfico, que nos aprazou uma visita dos seus técnicos a várias tipografias da capital, entre as quais a da Casa Pia. Como eu era ainda jovem e bem parecido, pela viagem lá me foram prevenindo para não darmos muita conversa com os rapazes aprendizes… A triste fama da Casa Pia já vinha de longe…
Noutra viagem ao continente, a convite da TAP, para comemorar as ligações directas Lisboa-Ponta Delgada, ficámos alojados no Hotel Estoril e assistimos a um espectáculo musical no Casino Estoril, onde fomos obsequiados com um jantar oferecido pelo presidente da companhia aérea nacional, então o embaixador Xara Brasil. Um dos pratos da refeição era peixe assado e os convivas foram acompanhados das esposas. Na madrugada seguinte, ao nos levantarmos para o pequeno-almoço, não vimos ninguém dos convidados da RAP e viemos a saber que tinha havido durante a oite grande alvoroço no hotel com várias pessoas indispostas e a vomitar, tendo algumas rcebido tratamento médico.
Nesse passeio, para que foram convidados, além de jornalistas e agentes de viagens de todas as ilhas, participaram todos os presidentes das Câmaras de S. Miguel e da Junta Geral, bem como o próprio Governador Civil de então, o Coronel Basílio Seguro, acompanhados das esposas, tendo a TAP proporcionado a todos os convidados uma deslocação em comboio especial - uma locomotiva com duas carruagens - à terra natal do coronel Basílio Seguro, a cidade da Guarda, onde fomos recebidos com grandes manifestações de apreço pelas autoridades locais e populares por tão ilustre militar filho da terra, a quem ofereceram e aos acompanhantes uma singular refeição em que predominou a bela fruta da região, cujos verdejantes prédios em profundos vales visitámos, bem como a Sé Catedral, de cuja torre se avistava terras de Espanha. No regresso a Lisboa, feito em autocarro, passámos por Viseu, onde pernoitámos e visitámos o Museu Grão Vasco, bem como por Coimbra.
Não quero deixar de recordar outra viagem que fizemos também a convite da TAP - a mais longa e em menos dias. Saímos de Ponta Delgada num sábado, pernoitámos em Lisboa, dali partindo para Nova Iorque no dia seguinte. Ali pernoitámos no Hotel Roosevelt, na 5ª Avenida, partindo depois em aviões de carreiras internas norte-americanas com várias escalas até ao Norte da Califórnia, na cidade de Seatle, onde à beira de um grande lago, qual Sete Cidades de maior dimensão, onde está instalada a grandiosa fábrica da Boeing, produtora dos aviões então usados pela TAP. Os passageiros convidados eram jornalistas de todo o país, que seguiam acompanhados pelo presidente da companhia na altura, e que levava consigo uma filha. Esta fez anos durante a viagem e como entre os jornalistas continentais havia bons cantores e cantoras, levaram toda a viagem em cada avião a cantar o "Happy Birthday" e outras canções do folclore nacional, que contaminaram de alegria todos os passageiros americanos que entravam nos aviões.
Chegados a Seatle, visitámos a grandiosa fábrica da Boeing, que era maior que um campo de futebol, e assistimos à montagem de diversos modelos de aviões, desde os maiores, o Jumbo, ao mais pequeno, o 735. Exactamente o que o presidente da TAP ia buscar e no qual viajámos de regresso a Portugal, via Canadá. Depois de um passeio oferecido pelos dirigentes da Boeing ao Monte Rainer, a 40 milhas da Colúmbia Britânica, iniciámos a viagem de regresso levantando voo da pista de treino da fábrica, nas margens do lago, para sobrevoar o Canadá com paisagens lindas e um tempo sempre bom que proporcionava boa visibilidade aérea. Ao levantar voo, o 735 fez uma aterragem na pista para demonstrar o sistema de aterragem mecânica automático. O avião, para facilitar a longa viagem para Portugal, via Açores, não levava as cadeiras, mas apenas mantas e cobertores para os passageiros se acomodarem a lastro e um frigorífico cheio de bebidas e gelados para os mesmos passarem a longa noite reconfortados.
Eram duas equipas de pilotos que conduziram o aparelho, uma dos comandos do avião e outra a analisar computadores e a controlar a orientação. Ninguém dormiu naquela noite, desde que saímos do Aeroporto do Quebec até chegarmos ao de Ponta Delgada.
Esta diversão de viagens já vai longa, mas não queremos deixar de lembrar uma proporcionada pela SATA a Inglaterra, à fábrica dos erus aviões "AVRO", na cidade de Manchester. Acompanhou-nos o sr. Comandante Afonso, chefe da equipa de pilotos da companhia açoriana, e o sr. Cabral, das relações públicas da empresa. Depois de uma visita à fábrica, os técnicos e dirigentes proporcionaram um passeio aéreo entre a Inglaterra e a Irlanda com demonstrações de dois aviões, um Avro e outro de maiores dimensões.
Findo este interregno, voltemos à finalidade desta crónica, que é a história da minha vida ao serviço do Diário dos Açores, o quotidiano mais antigo dos Açores, embora seja o "Açoriano Oriental" o jornal mais velho de Portugal, mas iniciou-se como semanário e assim se manteve durante muitos anos, até que a empresa liderada por Gustavo Moura, se abalançou à sua aquisição depois de ter comprado o "Açores", de Cícero de Medeiros.
Gustavo Moura iniciou as lides jornalísticas no Diário dos Açores, quando eu já pontificava na Redacção, e passou a ter a seu cargo, graciosa e sabiamente, a página desportiva, integrando-se rapidamente na família que dirigia o jornal. Como nós, que admirávamos muito a rapidez, o discernimento e a capacidade de escrever com conhecimento de causa, foi também acolhido com reconhecida admiração pela Direcção e restantes membros da Redacção, que era integrada na altura, para além de mim, pelos saudosos revisores Eduarda Pereira e Duarte Xavier Jácome de Medeiros, ajudados muitas vezes pela linotipista Isilda de Medeiros. Carlos Tomé, hoje jornalista da RTP-A, trabalhou connosco, e José Costa Melo, também funcionário administrativo da RTP-A, foi hábil linotipista do Diário dos Açores. Igualmente Pedro Moreira iniciou a sua actividade jornalística no Diário e passou para a televisão. Da rádio, tivemos também alguns colaboradores amigos, que frequentavam a redacção muitos dias, mais para se integrarem na sua feitura. Fernando Luís Couto Alves, depois de desistir do curso do Seminário de Angra, foi nosso companheiro de trabalho, passando mais tarde para a função pública.
Quanto aos empregados, recordo com saudade os falecidos João de Jesus, compositor e paginador, Gild e Oliveira, compositor e impressor, Daniel Pestana, impressor, Arsénio Sousa Borges, famoso impressor de livros, Maria Tavares, versátil artista: compunha mapas, fazia blocos e encadernava livros.
No aspecto dos colaboradores, lembro com saudade e gratidão a amizade que me dispensaram os falecidos Padre Dinis, dr. Rui Galvão de Carvalho, dr Francisco Carreiro da Costa, dr José de Almeida Pavão jr., dr João Bernardo de Oliveira Rodrigues, o Almirante Botelho de Sousa e José Rebelo de Bettencourt, já falecidos.
Junto a estes todos os correspondentes nas vilas e freguesias desta ilha, recordando em especial José Pereira da Silva, com as suas páginas da vila-cidade da Ribeira Grande, Vico Pires Coelho, de Vila Franca do Campo, Manuel Carreiro da Costa, da Lagoa, Manuel Augusto Vieira, de Água de Pau, João Alves dos Reis, nos Mosteiros. Na Povoação tivemos, que me lembre, dois, mas já não recordo os seus nomes.
Lembro agora as fases mais tristes que passei no jornal: as mortes dos seus directores drs. Manuel da Silva Carreiro e Carlos Resende da Silva Carreiro.
O estado de saúde do dr. Manuel foi piorando progressivamente desde a morte do seu filho Manuel Amaral Carreiro, em combate na Guiné, nas vésperas do jornal completar o centenário, vindo a falecer a 7 de Setembro de 1974. O dr. Carlos durou apenas 3 anos mais, falecendo a 28 de Setembro de 1977.
Com estes tristes desenlaces - os drs. Carlos e Manuel Carreiro tinham sido padrinhos do nosso casamento, com as suas esposas, o primeiro de mim próprio e o segundo de minha esposa, professora Maria de Lurdes Arruda, que tinha sido explicadora dos seus filhos, tendo a sua falta na direcção do jornal aumentado as minhas responsabilidades, pois tinha ficado sozinho na Redacção com a ajuda da esperta revisora Eduarda Pereira e de Alberto Carreiro e Clara Gomes, a quem já tinha confiado os trabalhos de contabilidade. Como nunca tinha tido o meu nome no cabeçalho, nem como Chefe de Redacção, lembrei-me de por como director interino o nome do pintor Carlos do Amaral Carreiro, filho do dr. Manuel, e professor da Escola de Belas Artes do Porto, onde estudara. Mas eles pelas suas actividades absorventes, e já ser chefe de família, declinou essa responsabilidade na irmã, D. Isabel A. Carreiro Machado Costa, casada com o florentino Roberto Machado Costa. Mas a D. Isabel também se aborreceu depressa e como o jornal estava a causar prejuízos avultados e a sua tia e madrinha, D. Elvira Carreiro, viúva do dr. Carlos, ficara sem rendimentos, já tinha pedido ao dr. Mota Amaral, Presidente do Governo Regional, para comprar a sua quota na Empresa Diário dos Açores, decisão que levou muito tempo a resolver, começando por convidar um conceituado advogado com escritório na Rua do Brum, cujo nome não me recordo, a analisar a escrita do jornal. Esse advogado levou-nos os livros selados e nunca mais nos devolveu, o que nos agravou a nossa situação financeira com pesadas multas das Finanças. Esse advogado acabaria por falecer e foi então que Alberto Carreiro comprou livros novos, registou-os nas Finanças e voltaram as coisas à normalidade.
Mota Amaral acabou por escolher um grupo de correligionários do partido para comprar a quota do jornal, de que fazia parte Américo Viveiros, Raul Gomes dos Santos, Roberto Moniz e o dr. Almeida e Sousa. Nesse interregno, tínhamos convidado o velho colaborador sr. João Silva Jr (lembram-se os leitores da sua habitual crónica "A Minha Nota"?), que viria a falecer no seu posto de trabalho, talvez intoxicado com o fumo dos três maços de cigarros que cheguei a consumir todos os dias…
Sucedeu-lhe na Direcção o prof. Eduardo Medeiros, até o jornal acabar de ser totalmente vendido à Gráfica Açoriana.
Ao iniciar hoje o seu 138º ano de publicação, erguemos a nossa prece pelos fundadores e continuadores da direcção do jornal Diário dos Açores e por todos os colaboradores e trabalhadores que ergueram este baluarte histórico da informação pública, fazendo ardentes votos pela sua continuidade a bem da terra e das suas gentes.
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